(ESO/B. Tafreshi/Creative Commons) |
Elas escaparam de sua casa original - a Grande Nuvem de Magalhães, galáxia-anã a 160 mil anos-luz da Via Láctea. E agora correm por aqui.
Nas beiradas da Via Láctea, existem estrelas viajando a velocidades gigantescas. As mais rápidas chegam a atingir a marca dos mil quilômetros por segundo, e, não por menos, são chamadas de estrelas hipervelozes. Até agora, os cientistas identificaram 20 delas por aqui – quase todas no céu do Hemisfério Norte. De tão ligeiros, esses astros acabam eventualmente escapando de nossa galáxia, indo dar uma voltinha nas vizinhas.
Até então, acreditava-se que toda essa rapidez era adquirida pela ação do buraco negro supermassivo que está no centro da Via Láctea. Ao passarem próximas ao buraco, as estrelas seriam atiradas como se fossem munição de um estilingue. Assim, ganhariam uma aceleração gigantesca, capaz de fazê-las acumular energia para conhecer novos roteiros espaciais. Mesmo com essa hipótese, algumas anomalias como o surgimento de estrelas hipervelozes sem a ação de buracos negros e o fato delas estarem quase sempre na mesma região, permaneciam sem um porquê.
Um estudo recente desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Cambridge, tentou resolver o impasse criando uma nova explicação para o fenômeno. Por meio de simulações computacionais e análise de dados espaciais, comprovou-se que nossas estrelas velocistas, na verdade, também são fugitivas de uma galáxia-anã vizinha: a Grande Nuvem de Magalhães. Lar das estrelas fujonas, ela orbita a Via Láctea e está localizada a cerca de 160 mil anos luz de distância.
Um astro que explode em uma supernova, por lá, consegue adquirir uma velocidade absurda. Isso porque além da explosão liberar grande quantidade de energia, a Grande Nuvem de Magalhães se move de forma bem rápida – a quase 1,5 milhão de km/h. Incapaz de segurar os astros apressadinhos por só ter 10% da massa da Via Láctea (e uma força gravitacional bem menor), a galáxia-anã os promove à classe de estrela fugitiva.
“Essas estrelas pularam com o trem em movimento, [portanto] não é de se admirar que elas sejam rápidas”, conta Rob Izzard, um dos autores do estudo. “Isso também explica a posição que elas ocupam no céu, porque as fugitivas mais rápidas foram ejetadas da órbita da Grande Nuvem de Magalhães em direção às constelações do Leão e Sextante”, completa. Ambas as constelações, que abrigam o maior número de estrelas hipervelozes, podem ser vistas apenas no Hemisfério Norte.
Apesar de conhecermos apenas 20 delas, estima-se que a Grande Nuvem de Magalhães tenha produzido um número bem maior delas. “Acreditamos que sejam pelo menos 10 mil outras fugitivas dispersas por todo céu”, diz Izzard. “Muitas acabarão caindo em outras galáxias, outras viajarão por bilhões de anos pelo espaço entre galáxias diferentes – e outras, morrerão ainda antes disso”.