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terça-feira, 15 de agosto de 2017

Astrofísica: Metade dos nossos átomos veio de outras galáxias

(Reprodução | Guardian Wires/YouTube)

Simulação de computador resume os 13 bilhões de anos da Vila Láctea – e descobre que 50% de sua matéria foi sugada de explosões em galáxias próximas



O nascimento dos átomos que formam você foi muito mais divertido do que o seu: simulações de computador feitas na Northwestern University, nos EUA, revelam que metade de todo o material da Via Láctea (e, portanto, do seu corpo) não foi fabricado por aqui – mas forjado no núcleo de imensas estrelas de galáxias vizinhas, e então expelido para cá em explosões monumentais. A descoberta vai na contramão das teorias vigentes, que até então não consideravam esse troca-troca de material uma parte tão relevante da formação de aglomerados de estrelas. Funciona assim: galáxias de grande porte como a Via Láctea, com algo entre 100 mil e 180 mil anos-luz de diâmetro, são cercadas de satélites – às vezes chamados de galáxias-anãs. Eles são algomerados de estrelas menores que o nosso, mas de maneira alguma pequenos. A Grande Nuvem de Magalhães (LMC), por exemplo, tem 14 mil anos-luz de diâmetro. Sua irmã menor, a Pequena Nuvem de Magalhães, tem exatamente metade do tamanho e 7 bilhões de vezes a massa do Sol. Às vezes uma estrela de grande porte que “mora” em uma dessas pequenas galáxias chega ao final do seu ciclo de vida. E então ela explode. O fenômeno está muito além do que um ser humano pode imaginar: arremessa trilhões de toneladas de gás com tanta violência que esse material consegue escapar da atração gravitacional de seu aglomerado de origem e acaba “caindo” na galáxia mãe, muito maior. Por meio desse processo, todo ano a Via Láctea ganha o equivalente à massa de um Sol. Parece pouco – e realmente não é muita coisa na escala cósmica. Mas multiplique isso pelos 13 bilhões de anos que se passaram desde que tudo começou e a conta começa a fazer sentido.

“Os ventos galácticos contribuem com uma quantidade muito mais significativa de material do que pensávamos. Esse é um novo modelo de crescimento de galáxias, que nós não havíamos considerado antes”, declarou à imprensa Daniel Anglés-Alcázar, pesquisador responsável. “A ciência é muito útil na hora de encontrar nosso lugar no universo. Nós somos como visitantes ou imigrantes na galáxia que chamamos de nossa.” Para chegar a essa conclusão, é preciso usar supercomputadores capazes de calcular, de acordo com as leis da física, cada movimento da dança cósmica entre a Via Láctea e suas irmãs menores desde que elas se formaram – e então acelerar “o vídeo” o suficiente para assistir a uma versão resumida das trocas de gás. Afinal, ninguém tem 13 bilhões de anos para ficar na frente do computador. O processo completo está descrito no artigo científico, de acesso gratuito – e você pode ver um trecho abaixo. Por Bruno Vaiano (Superinteressante)

Astrofísica: Somos poeira de estrelas

A matéria-prima do ar, das rochas e da vida foi e continua sendo forjada pelas pressões gigantescas que existem no coração das maiores estrelas.



 O astrônomo americano Carl Sagan, provavelmente o maior divulgador científico de todos os tempos, costumava dizer que nós – humanos, seres vivos da Terra, o próprio planeta e todo o sistema solar – somos poeira das estrelas. Era o modo lírico dele de explicar nossas origens no Universo. Só surgimos porque outras estrelas morreram há bilhões de anos, espalhando pelo espaço matéria composta de elementos químicos que viriam a nos constituir tempos depois. Esse, na verdade, é o processo de vida e morte que permeia todo o Cosmo. As primeiras estrelas nasceram por volta de 100 milhões de anos depois do big-bang (que aconteceu há 13,7 bilhões de anos), em condições bastante diferentes das que formam novas estrelas hoje. Foi a morte delas, no entanto, em eventos violentos e espetaculares, que abriu caminho para a formação de sistemas solares como o nosso. Nos primórdios do Universo só havia no espaço os elementos químicos hidrogênio e hélio. Foi o calor gerado pela explosão dessas primeiras estrelas, mais ou menos 1 bilhão de anos depois, que ajudou a produzir e espalhar os elementos necessários à vida: carbono, nitrogênio e oxigênio, além de ferro, fósforo etc. Até o surgimento da Terra, no entanto, passou-se mais um bom tempo. Essas explosões espetaculares de estrelas são conhecidas como supernovas. Elas ocorrem, por exemplo, quando estrelas enormes, com massa superior a 8 vezes a do nosso Sol, consomem todo o combustível em seu interior e ficam incapazes de se sustentar. Sem o suporte, a matéria de seu exterior acaba despencando em direção ao núcleo, e a estrela sofre um colapso. Isso provoca um aumento de temperatura e pressão e ela explode, lançando estilhaços de carbono, oxigênio etc. Nesse momento, o brilho é tão forte que lembra mais o de um cometa – sem cauda, claro. Essas explosões acabam funcionando como os grandes motores das transformações cósmicas. O material jogado no espaço vai formar outras estrelas, outros planetas. Como diria o físico brasileiro Marcelo Gleiser, “do espaço viemos e para o espaço retornaremos”. A avó da terra Há uns 5 bilhões de anos, um astro com massa várias vezes a do nosso Sol explodiu. Ele deixou um cadáver imenso de gás e poeira, com cerca de 24 bilhões de quilômetros. Assim nasceu o nosso sistema solar. “A vida é apenas um vislumbre passageiro das maravilhas que existem no Universo.” Carl Sagan


Texto Giovana Girardi - (Superinteressante)

Descoberta: Adaga encontrada em tumba de faraó veio do espaço

Agora, cientistas tentam descobrir de que meteorito o ferro da adaga veio (Foto: Divulgação/Museu Egípcio do Cairo)

Pesquisadores encontraram traços de ferro proveniente de meteorito na arma enterrada com Tutancâmon


Pesquisadores concluíram que uma adaga encontrada no sarcófago do faraó Tutancâmon (1346-1327 a.C.) veio, literalmente, do espaço. Em uma análise para determinar a origem do ferro que compõe a arma, os cientistas descobriram que o material é proveniente de um meteorito. O estudo, feito em parceria pelo Museu Egípcio do Cairo e pelas universidades de Pisa e Politécnica de Milão, foi publicado na revista científica Meteoritics & Planetary Science. Os cientistas escreveram no artigo que a descoberta desta adaga feita com ferro de meteorito é um grande passo na elucidação do misterioso “ferro caído do céu”, relatado em diversos textos egípcios, hititas e mesopotâmicos. A principal hipótese dos cientistas é a de que os egípcios consideravam o “ferro caído do céu” divino e o utilizava para aplicações extremamente raras, como o enterro de um faraó. “Se já existia na época, o derretimento de ferro provavelmente produzia ferro de baixa qualidade para objetos reais e preciosos. Assim, esta descoberta também comprova que os egípcios já tinham sucesso trabalhando com ferro ainda no século 14 a.C.”, escrevem os pesquisadores. Na própria tumba de Tutancâmon, os cientistas encontraram outro objeto intrigante: um colar peitoral com um amuleto esverdeado em formato de escaravelho, construído com vidro de sílica do deserto. Como este material só existia de forma natural na região desértica da atual Líbia, os pesquisadores supõem que o vidro usado no amuleto tenha sido gerado pelo impacto de um meteorito ou de um cometa nas areias do deserto do Antigo Egito. De que és feita, ó adaga? A técnica usada pelos pesquisadores para a analisar a adaga não danificou o objeto. Eles realizaram uma forma de análise não invasiva, utilizando um espectrômetro de fluorescência de raios-X, que pode determinar a composição química dos materiais. De acordo com o estudo publicado, a lâmina da adaga encontrada na tumba de Tutancâmon contém cerca de 11% de níquel. Artefatos produzidos com minério de ferro terrestre apresentam índices de, no máximo, 4% de níquel. “O ferro de meteorito está claramente indicado pela presença de alta porcentagem de níquel”, disse Daniela Comelli, da Universidade Politécnica de Milão, em entrevista ao canal Discovery News. Além das taxas correspondentes de níquel, os pesquisadores encontraram na lâmina menores quantidades de carbono, cobalto, enxofre e fósforo, elementos comumente encontrados em meteoritos. Agora, os pesquisadores continuarão a analisar os outros objetos encontrados na tumba do faraó, que morreu jovem, aos dezenove anos, de causas desconhecidas. Em paralelo às análises, os pesquisadores estão comparando amostras de meteoritos ferrosos catalogados que tenham caído num raio de dois mil quilômetros ao redor do Mar Vermelho. *Com supervisão de Nathan Fernandes (Revista Galileu)

Análises recentes mostram que o material de que é feito um dos punhais encontrados junto da múmia do jovem faraó provém de um meteorito.

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