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quinta-feira, 16 de abril de 2020

CNN produziu vídeo para exibir em caso de fim do mundo; assista

 (Galerie Bilderwelt/Superinteressante)




Gravado nos anos 1980, quando a Guerra Fria podia terminar num apocalipse nuclear, vídeo tem exatamente 1 minuto – e foi mantido em segredo por décadas “Normalmente, quando um canal de TV inicia e encerra as transmissões do dia, ele toca o hino nacional. Mas com a CNN, um canal 24 horas, nós só sairíamos do ar uma única vez, e eu sabia o que isso significaria”, contou Ted Turner, o fundador da emissora,  à revista New Yorker. Ele estava se referindo a um dos episódios mais bizarros da história da mídia: um vídeo, produzido pela CNN, para exibição em caso de apocalipse nuclear. “Nós reunimos as bandas do Exército, da Marina e da Aeornáutica, as levamos até a sede da CNN, para que tocassem o hino nacional. Aí eu perguntei se elas poderiam tocar Nearer My God, to Thee, para ter em videotape, caso o mundo acabsse. Seria a última coisa que a CNN transmitiria antes de… antes de sair do ar”, afirmou Turner em 1988. Embora Turner tenha admitido a existência da gravação, ela só se tornou pública em 2015, quando  um ex-funcionário da CNN obteve uma cópia e a colocou na internet. No vídeo, de exatos 60 segundos, músicos executam uma versão instrumental do hino cristão composto no século 19 pela poeta Sarah Flower Adams. Confira abaixo: 


 “Eu não consigo ver isso sem ficar com lágrimas nos olhos”, declarou Turner à New Yorker. Em sua versão original, Nearer tem letra, de tom apocalíptico: há trechos como “o Sol se pôs” e “a escuridão nos cobriu”, e o narrador morre – subindo ao céu para encontrar Deus. O clipe nunca foi ao ar. E, mesmo numa eventual catástrofe planetária, provavelmente não será: em 1996, Turner vendeu a CNN para o grupo Time Warner (hoje parte da empresa de mídia e telecomunicações AT&T).

Por Bruno Garattoni/Superinteressante

Cientistas transformam estrutura do novo coronavírus em música; ouça

 (Markus J. Buehler/Superinteressante)

Não é nenhuma brincadeira: o objetivo é criar uma outra forma de organizar as informações do vírus para melhor entendê-lo.



Neste ponto da pandemia, você já deve ter visto várias imagens do novo coronavírus: basicamente, uma bolinha coberta por estruturas pontiagudas, as proteínas spike. Mas agora, pela primeira vez, você também pode ouvi-lo. Uma equipe de cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) traduziu a estrutura da coroa do vírus em música.

Funcionou assim: como todas as proteínas, as spike são formadas por aminoácidos. Usando uma técnica chamada sonificação, a equipe atribuiu uma nota para cada aminoácido em uma escala musical. Depois, os cientistas escolheram os instrumentos musicais com base em gostos pessoais, sendo o principal o koto, um instrumento típico do Japão. 

Em seguida, uma inteligência artificial deu uma mãozinha para transformar a estrutura em música, gerando um áudio de quase duas horas. Além de simplesmente colocar as notas uma atrás da outra, o software ajustou o volume e duração delas com base na realidade, porque esses aminoácidos podem se apresentar dobrados em formato de hélice ou esticados, o que altera a estrutura da proteína. Markus Buehler, o pesquisador principal do estudo e também musicista, publicou o resultado final do trabalho:


Apesar de também ser uma espécie de expressão artística, a iniciativa tem grande valor científico. A sonificação ajuda a expressar informações de um jeito diferente: assim como você pode ver a spike em um desenho ou ler a sequência de seus aminoácidos, agora também pode ouví-la. E isso fornece aos cientistas uma nova base de dados que permite procurar por padrões ou características específicas da proteína em busca de um medicamento, por exemplo. Como as spike são essenciais para o vírus entrar numa célula humana, achar uma arma específica para elas é uma estratégia que pesquisadores de todo o mundo vêm buscando.

“Nossos cérebros são ótimos no processamento de sons”,  explica Buehler, que já trabalhava com a sonificação de proteínas antes da pandemia. “De uma só vez, nossos ouvidos conseguem captar todas suas características: tom, timbre, volume, melodia, ritmo e acordes. Para ver esses mesmos detalhes em uma imagem, precisaríamos de um microscópio de altíssima potência – e nunca conseguiríamos observar tudo ao mesmo tempo.”

Quem ouve a sinfonia relaxante sem saber sua história dificilmente imagina que o que está por trás dela é um vírus que já causou mais de 87 mil mortes pelo mundo. “[A música] engana nosso ouvido da mesma maneira que o vírus engana nossas células. É um invasor disfarçado de visitante amigável”, diz Buehler.

Por que as pessoas estão tendo sonhos mais vívidos durante a quarentena?

(demaerre/Getty Images)

Desde pesadelos com a cura até histórias de amor impossíveis. Saiba o que tem tornado as noites de sono tão emocionantes em tempos de pandemia.


Você se lembra com o que sonhou essa noite? Caso a resposta seja sim, o mesmo vale para as noites passadas? E antes da pandemia de Covid-19, você lembrava das histórias que passavam na sua cabeça durante o sono? Pois é, talvez aquela rotina não te permitisse sonhar com tanta intensidade, mas as coisas mudaram. Nas redes sociais, muitas pessoas estão relatando experiências vívidas (e um pouco estranhas) sobre seus sonhos. 

Esse negócio de sonhos estranhos tá acontecendo com todo mundo mesmo?! O que o nosso inconsciente tá fazendo nessa quarentena com a gente? Pelo amor de Deus!

241 pessoas estão falando sobre isso


Se você sentiu isso e percebeu que outras pessoas ao seu redor passaram pela mesma situação, relaxe. Não é delírio coletivo e muito menos motivo para criar teorias da conspiração. A ciência é suficiente para explicar o fenômeno. 

Vamos ao primeiro possível motivo: o sono REM – sigla em inglês para “movimento rápido dos olhos” –, fase em que sua atividade cerebral se torna similar à de quando você está acordado. O sono REM ocorre em ciclos que duram entre 90 e 120 minutos e pode se repetir algumas vezes durante a noite. É nesse momento que os sonhos mais vívidos acontecem.

Qual é a relação do sono REM com a situação atual? Bem, nós estamos quase todos fora da nossa rotina. Muitas pessoas estão dormindo mais e não precisam pular da cama para ir ao trabalho, o que significa que ocorrem mais ciclos REM durante a noite (simplesmente porque o tempo total de sono aumenta).

Além disso, a probabilidade de acordar naturalmente durante um ciclo REM também aumenta – é bem mais saudável do que levantar na hora que o despertador quer –, e quando isso ocorre, é mais provável que o indivíduo se lembre do que estava sonhando.

Já para aqueles que estão sonhando diretamente com o coronavírus ou tendo vários pesadelos, a resposta evidentemente pode estar no estresse físico e emocional causado pela pandemia. Você é bombardeado diariamente por notícias sobre a Covid-19, seus amigos e familiares só falam disso nas redes sociais. Logo, o tema também vai surgir durante a noite – de acordo com a teoria de continuidade de William Domhoff, psicólogo americano especialista em sonhos.

Noites ruins são recorrentes após tragédias coletivas – não são só acontecimentos pessoais que contam. Na época dos atentados de 11 de setembro, em 2001, uma professora associada de psicologia na Faculdade Merrimack, em Massachusetts, estava realizando um trabalho com seus alunos em que, diariamente, eles registravam seus sonhos em diários. A professora teve a oportunidade de comparar o que eles escreveram antes e após o desastre, levando em consideração a influência que a mídia teve naquilo que estavam sonhando.  

A professora  concluiu que, para cada hora que os alunos eram expostos ao assunto na TV, as referências aos ataques nos sonhos aumentava em 6%. Outro fato interessante é que, quando os alunos não conversavam com ninguém sobre o assunto, sonhavam diretamente com aviões, torres e explosões.

Por outro lado, se esse tema era debatido com a família e amigos, os pesadelos não eram especificamente sobre o ocorrido. Eram coisas como um acidente de carro ou uma cena de perseguição, por exemplo. Assim, a pesquisadora percebeu que o trauma era mais facilmente superado quando as pessoas colocavam a angústia para fora. O acontecimento acabava se integrando com mais facilidade à vida como um todo. 

Caso você não aguente mais ter pesadelos, tem como se livrar deles. Para isso, você precisa estar tendo um sonho lúcido, ou seja, “despertar” no meio do sonho e perceber que aquilo não é real. A partir daí, você consegue tomar o controle da situação. Voar, lançar chamas, mudar de roupa num piscar de olhos, tudo isso torna-se possível. Nessa matéria da Super, você consegue saber direitinho como chegar nesse ponto.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a escritora Charlotte Beradt coletou cerca de 75 sonhos de pessoas que viviam sob o governo nazista e lançou o livro “O Terceiro Reich dos Sonhos”. Inspirado na iniciativa, nasceu o blog “Eu Sonho com Covid”, em que pessoas do mundo todo podem enviar seus sonhos e tê-los publicados. 
As histórias são diversas. Temos uma pessoa da Califórnia que ficou responsável por escolher quem tomaria a vacina para combater a doença ou não, tendo que deixar inclusive sua mãe de fora. Um brasileiro escreveu que estava nevando muito em nosso país tropical e que foi induzido a participar de uma invasão, que no fim, era na casa de seus próprios pais.
Outro brasileiro criou um amante nos sonhos, capaz de fazer com que ele se sentisse seguro. Mesmo sem saber quem é essa figura imaginária, diz sentir saudades ainda quando está acordado. Me questionei se deveria acrescentar na lista meu sonho bizarro dessa noite, em que eu encontrava o Mickey numa praia americana. Mas, e você, com que tem sonhado? 

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Espaço: Astrônomos avistam supernova mais poderosa de todos os tempos

(M. Weiss/Divulgação)

A explosão está acontecendo há anos. Agora, os cientistas conseguiram calcular a massa da estrela que o originou: 50 vezes maior que a do Sol.


Imagine uma explosão tão grande que é capaz de encobrir uma galáxia inteira. Foi o que aconteceu com a supernova SN206aps, avistada por astrônomos de Harvard.

Primeiro, vale lembrar que uma supernova nada mais é do que uma estrela explodindo em seus estágios finais de vida. Os pesquisadores se depararam com a SN206aps ainda em 2016, quando observavam o céu pelo Panoramic Survey Telescope and Rapid Response System (Pan-STARRS), telescópio localizado no Havaí. Ele continuaram monitorando e, agora, com apenas 1% do seu pico de brilho, conseguiram calcular sua massa: algo entre 50 e 100 vezes maior do que o Sol. Para se ter uma ideia, uma supernova comum é seis vezes menor que isso. 

De início, os cientistas pensaram que a supernova estava no meio do nada, pois não avistaram sua galáxia de origem. Mas, na verdade, seu brilho era tão intenso que encobriu toda a região que habitava. Ela está a 4,5 milhões de anos-luz da Terra e, além de ser a mais poderosa já vista, é também a mais duradoura. Supernovas menos robustas permanecem apenas alguns meses explodindo, diferente desse fenômeno que está impressionando pesquisadores há quatro anos.

Por que essa supernova é tão expansiva?

Os pesquisadores acham que o que pode ter acontecido é a fusão de duas estrelas menores antes do fenômeno. Isso porque foi observada uma alta concentração de hidrogênio durante a explosão, algo incomum para estrelas massivas, que ejetam a maior parte do elemento antes de se tornarem supernovas. 

Depois, pode ter acontecido o que os cientistas chamam de explosão de instabilidade de pares pulsantes: a grande estrela foi se dissipando com o decorrer dos anos, expelindo matéria, ou seja, deixando para trás mais ou menos metade da sua massa em gás. Uma hora, ela foi de encontro a essa bomba de gás e colidiu, causando a mega explosão.

Mas a quantidade de gás expelida no passado é o que mais surpreende os cientistas. O comum é que a estrela libere essa “bomba” milhões de anos antes de explodir. Mas, nesse caso, as observações indicam que foi liberada apenas com algumas décadas de antecedência. 

Além disso, após a explosão de uma supernova, costuma ficar para trás uma nebulosa (nuvem de gases e poeira) ou até mesmo um buraco negro. Mas, o SN2016aps ainda não nos deu dicas do legado que deixará. Isso porque seu brilho, mesmo após anos, segue tão intenso que fica impossível de enxergar qualquer coisa extra. É preciso esperar até que essa luz se apague sozinha. 

Avistar mais fenômenos como esse pode auxiliar no entendimento de estrelas supermassivas. Na Via Láctea, onde estamos agora, não existem astros dessa intensidade, então é preciso olhar sempre além daqui. Os cientistas esperam que, com as próximas gerações de telescópio que estão por vir, seja possível observar explosões como essa que ocorreram ainda nos primeiros cem milhões de anos que sucederam o Big Bang.

Astrofísica: Como ver a chuva de meteoros Líridas, que acontece em abril

 (Haitong Yu/Getty Images)

Saiba as datas e horários para observar o fenômeno, que já está acontecendo - e é uma boa pedida para quem está querendo sair da rotina na quarentena.


Todos os anos, no mês de abril, o céu noturno fica um pouco mais colorido. É por causa da chuva de meteoros Líridas, um fenômeno causado pela poeira do Cometa Thatcher (C/1861 G1) entrando em nossa atmosfera. Como a chuva acontece na direção da constelação de Lyra, recebeu o nome em sua homenagem.

Este ano, o fenômeno acontece entre 14 e 30 de abril, começando de noite e indo até o amanhecer, com o pico sendo previsto para a madrugada do dia 22. Nesse período mais intenso, são esperados entre 10 e 20 meteoros por hora, dependendo do local, com uma média de 18 meteoros por hora. Para observá-los, basta disposição de ficar acordado: não é necessário nenhum tipo de equipamento especial.

O fenômeno é mais bem visto do Hemisfério Norte. No Brasil, as regiões Norte e Nordeste terão uma visão privilegiada em relação ao resto do País – nelas, serão observáveis até 16 meteoros por hora, contra apenas 7 na região Sul. Todo o Brasil, porém, poderá acompanhar o espetáculo astronômico: basta ficar em um quintal, uma varanda ou em um lugar que dê uma boa visão do céu aberto. Quanto mais escuro o ambiente, melhor. E não precisa nem falar que quem mora no campo terá uma experiência melhor do que quem mora em cidades, devido à poluição atmosférica e luminosa.

Este ano também conta com um fator especial: a Lua estará brilhando muito pouco, quase em fase nova, o que facilita a observação a olho nu dos meteoros luminosos.

Para quem não tem disposição de passar a madrugada toda observando o céu, fica a dica: o melhor é acordar por volta das 2h do dia 22, quando a atividade dos meteoros estará maior, e ficar até pouco antes do amanhecer.

Meteoros são fenômenos astronômicos bem conhecidos – são popularmente chamados de “estrelas cadentes”, apesar de não serem estrelas, e até são alvo de crendices sobrenaturais. Eles acontecem quando fragmentos de rochas entram na nossa atmosfera em altíssima velocidade, aquecendo muito o gás ao seu redor e liberando muita energia luminosa no processo, o que os fazem parecer “bolas de fogo” caindo do céu.

Essas pedras cósmicas entram em nossa atmosfera a todo momento, então é possível observá-las aleatoriamente pelo ano. Mas em algumas épocas a Terra acaba se voltando para áreas onde há muita atividade desses fragmentos, que é exatamente o que acontece em abril: nessas últimas semanas do mês, estamos observando os fragmentos do Cometa Thatcher (C/1861 G1) entrando em nossa atmosfera com grande frequência, gerando a chuva de meteoros.

Apesar da ideia de ter pedaços de pedra do espaço entrando em nosso planeta ser um pouco assustadora, não é necessário ter medo: elas não causam dano algum. Há registros de que a humanidade observa o fenômeno desde 687 a.C. Em 2020, com grande parte do mundo em quarentena, pode ser uma boa oportunidade de sair do tédio – e, para quem acredita, desejar coisas boas às “estrelas cadentes”.

Astrologia: 'Quiseram fazer meu mapa astral na entrevista’: quando o signo vira critério para conseguir emprego

Estudos sobre signos tiveram início há mais de 4 mil anos e sempre tiveram impacto na sociedade, apontam pesquisas sobre o tema/GETTY IMAGES


O designer Pedro Henrique, de 23 anos, ficou surpreso com uma pergunta feita durante uma entrevista de estágio em uma loja do Rio de Janeiro, há três anos.


"Fui entrevistado pelo próprio dono. Ele me fez muitas perguntas profissionais, sobre minha experiência na área e sobre a minha universidade. Mas depois ele começou a fazer perguntas mais pessoais e quis saber qual era o meu signo", diz o jovem, que é de leão.

A pergunta astrológica durante uma entrevista profissional causou ainda mais estranheza a Pedro horas depois, quando ele relatou o fato para outras pessoas. "Um amigo me contou que uma conhecida dele fez estágio nessa loja e disse que o dono perguntava sobre os signos das pessoas porque ele não contratava ninguém de touro", diz Pedro à BBC News Brasil.

Na internet há inúmeros relatos de pessoas que afirmam terem sido perguntadas sobre signos durante entrevistas de emprego. Elas não sabem a importância que os entrevistadores deram às informações astrológicas para escolher quem chamariam para a vaga disponível. Porém, acreditam que o signo possa ter sido levado em consideração.

O fato causa indignação em especialistas em Recursos Humanos (RH), que dizem que o signo não pode ser considerado de forma alguma um critério para a contratação de um trabalhador.

Meritocracia x Determinismo astrológico
"Seja um profissional de recursos humanos ou o proprietário de um estabelecimento, considerar um signo ao avaliar um trabalhador é absolutamente errado. É completamente inadequado. Isso fere a meritocracia. Entra em uma espécie de determinismo astrológico", assevera o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador em Comportamento Organizacional, Marco Tulio Zanini.

Profissionais da astrologia, a área que estuda os signos do zodíaco, também criticam o fato. "A avaliação de uma pessoa para uma vaga de emprego deve ser baseada em entrevistas e provas. Devem ser levados em consideração, principalmente, experiência profissional e testes psicológicos que venham a avaliar a habilidade emocional e psíquica do indivíduo", diz a astróloga Paula Belluomini, diretora da Sociedade Internacional para Pesquisa Astrológica (em inglês, "International Society for Astrological Research").

As astrólogas entrevistadas pela BBC News Brasil, no entanto, defendem que há situações em que os signos poderiam ser usados no processo seletivo para uma vaga de trabalho. Mas afirmam que tal informação não deve ser de total relevância na decisão final e precisa estar aliada a outros fatores relacionados ao desempenho profissional do candidato.

Acredita-se que a astrologia nasceu há, aproximadamente, quatro mil anos, durante a Babilônia. Ela surgiu a partir da análise dos ciclos dos astros e das fases da lua, que foram divididos em 12 unidades, hoje conhecidas como os signos do zodíaco. Na época, era usada para auxiliar a política e a agricultura.

Na Babilônia, ganhou status de ministério. Porém, se o astrólogo errasse um prognóstico, poderia ser degolado. Por séculos, astrologia e política andaram de mãos dadas.

"A astrologia se baseia no que os gregos chamavam de 'katarché', ou seja, o que estava no início, nos primórdios. A ideia é que a configuração dos astros num momento de nascimento de algo ou alguém guarda as informações sobre seu desenvolvimento ulterior no tempo. Por isso, a nossa obsessão com horários e minutos em que algo começa, seja lá o que for", explica a astróloga Bárbara Abramo, que desde os anos 1970 estuda sobre os signos.

Segundo a astrologia, os signos estão atrelados a, ao menos, 10 diferentes astros (entre eles Sol, Lua, Mercúrio, Vênus e Marte). A partir desses elementos, tendo como base o dia e horário de nascimento de alguém, são feitas análises como o ascendente (que aponta o signo que estava ascendendo a leste na hora e local do nascimento) e a Lua (em que signo a lua estava quando a pessoa nasceu).

A partir das informações obtidas por meio de uma análise astrológica, é elaborado o mapa astral de alguém — um gráfico com base no minuto exato em que uma pessoa veio ao mundo.

'Amor, arte e astrologia'
Popularmente, os signos costumam ser usados para atribuir características às pessoas, como o modo como elas se comportam e a forma como conduzem suas vidas. Para os profissionais da área, porém, somente um estudo individualizado, com base no mapa astrológico, pode fazer um retrato sobre alguém. "Tomar somente os signos como resposta é tomar a parte pelo todo", diz Abramo.

Há quem considere a astrologia uma "pseudociência". Ela não é classificada como ciência, no sentido positivista, porque não se pode reproduzir experimento controlado em laboratório. Para Abramo, porém, isso não reduz a importância do tema, pois ela afirma que se trata de um corpo de conhecimento que tem como base o saber acumulado. "O amor ou a arte, por exemplo, também não são ciências", justifica.

Apesar de ser menosprezada por muitos, a astrologia é considerada fundamental por outros. Em décadas passadas, era comum ver diversas revistas e outras publicações sobre o tema. Os jornais sempre costumaram reservar uma seção para tratar do assunto.

Estudiosos sobre o tema, ouvidos pela BBC News Brasil, afirmam que a astrologia passou a ser muito mais estudada e abordada nos últimos anos. Eles consideram que houve um incremento significativo no interesse pelo tema, principalmente, entre a geração millenials (nascidos entre os anos 1980 e meados de 1990).

"A facilidade de obter informações via internet democratizou o acesso ao tema. Essa geração fala mais de um idioma e, por isso, escolas de astrologia e associações internacionais flertam com o público brasileiro", diz a astróloga e psicoterapeuta Deborah Jean Worthington, presidente da Central Nacional de Astrologia (CNA).

'Mapa astral na entrevista de emprego'
O aumento no interesse sobre a astrologia culminou no uso do tema em diferentes situações, como em algumas entrevistas de emprego. "Fui a uma entrevista com meu currículo impresso em mãos. Quando fui chamada para conversar com o dono da empresa, ele viu a minha data de nascimento e começou a fazer ali mesmo o meu mapa astral. Ele perguntou meu signo, ascendente e lua. Achei uma atitude nada razoável", relata a designer Juliana*, de 34 anos.

Juliana conta que achou a situação engraçada. "Foi algo excêntrico. Eu adoro signos e astrologia, mas de uma forma divertida. Nunca deixaria de trabalhar ou me relacionar com alguém por conta disso. Inclusive, o meu namorado é de capricórnio, que tem uma péssima fama de coração gelado. E ele é um amor", afirma a designer.

Ela, que é de libra, não foi chamada para a vaga. Porém, acredita que o signo não tenha tido impacto na decisão. "Penso que não fui contratada porque quando falamos sobre valores, entendi que ele não tinha muito orçamento para aquilo que eu tinha proposto. Não acho que o signo influenciou porque um amigo que trabalhava na empresa me disse que o dono dela gosta de librianos."

No caso de Pedro Henrique, a entrevista terminou em contratação. "Fiquei uma semana por lá como estagiário, mas decidi sair. A empresa não era exatamente o que eu queria", relata o jovem.

Assim como Juliana e Pedro, nas redes sociais há inúmeros comentários sobre pessoas que dizem ter tido que revelar seus signos na busca por emprego. "Fiz uma entrevista e perguntaram meu signo e a hora em que nasci para fazer meu mapa astral. Como sou de gêmeos, com ascendente em aquário, não fui contratada", escreveu uma jovem.

"Participei de uma entrevista de emprego para um serviço de saúde, coisa séria, e o entrevistador perguntou meu signo", relatou uma jovem nas redes sociais. "Fiz uma entrevista em uma corretora, preenchi uma ficha e uma das perguntas era sobre o signo. A entrevistadora me disse que não contratam escorpianos", disse uma mulher.

Os constantes relatos de pessoas questionadas sobre signos em entrevistas de emprego preocupam profissionais da área de recrutamento.

O professor da FGV Zanini afirma que os pontos para a avaliação de um trabalhador devem ser claros. "Um candidato precisa saber os critérios para a seleção de uma vaga e isso não pode envolver informações consideradas místicas", declara.

"As informações astrológicas dependem da fé de quem as estuda e levá-las em consideração abre espaço para uma subjetividade absurda. Um mapa astral não consegue prever comportamentos e atitudes de alguém no ambiente de trabalho", afirma Zanini.

Já os astrólogos criticam, principalmente, o fato de que as abordagens sobre signos em entrevistas de emprego costumam ser feitas por pessoas consideradas leigas, que têm pouco conhecimento sobre o tema. "Uma pergunta aleatória como 'qual o seu signo?', quanto mais feita por alguém que não é astrólogo, está sujeita a ser interpretada de forma tendenciosa, pois tenta constatar informação relevante sobre um indivíduo somente baseada em seu signo solar e dá margem a discriminação sem embasamento ou análise adequada", afirma Paula Belluomini.

"Entrevistadores curiosos e amadores, ignorantes da arte astrológica, fazendo isso deve ser crime, ou puramente uma quase oficialização de discriminação contra pessoas. Eu entraria com um mandado judicial exigindo explicações", diz Abramo.

O advogado Pedro Chicarino, especialista em Direito do Trabalho, afirma que abordar determinadas questões pessoais durante um processo seletivo, como os signos, pode caracterizar uma conduta discriminatória. "Muitos entrevistadores se aprofundam em assuntos pessoais, não relacionados à vaga. Mas questões relativas a estado civil, doenças, gravidez, remédio que consome, posicionamento político, signo, entre outras, podem caracterizar discriminação", afirma Chicarino.

Chicarino diz que para que uma conduta seja considerada discriminatória, é preciso analisar o contexto que motivou o fato de a pessoa ter sido tratada com diferença. "Não havendo justificativa para embasar a diferenciação, seja em razão da necessidade do negócio ou da exigência profissional genuína, a conduta pode ser caracterizada como discriminatória", diz.

A CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) afirma que é proibida discriminação por motivo de "sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar, deficiência, reabilitação profissional, idade, entre outros".

Os signos não são especificados na CLT, mas Chicarino afirma que eles podem se enquadrar na regra, dependendo da situação, por se tratar de uma questão pessoal, que não têm relação com a vaga. Ele diz que um candidato pode fazer uma denúncia ao Ministério do Trabalho, caso entenda que perdeu uma vaga por causa do seu signo. "Esse tipo de conduta precisa ser denunciada e coibida", afirma Chicarino.

A astrologia e o trabalho
Há empresas que recorrem a astrólogos para que possam fazer a avaliação de um candidato. Desta forma, os signos passam a fazer parte da análise para uma vaga. Nesses casos, segundo as astrólogas consultadas pela reportagem, a análise é feita de uma forma considerada mais profissional e uma pessoa não é excluída de uma vaga por conta de seu signo. O fato, porém, é criticado por especialistas em recrutamentos.

"Os astrólogos profissionais podem contribuir com avaliações sérias, baseadas no mapa de candidatos em sua totalidade, onde a aptidão seria o foco. O envolvimento de um astrólogo profissional pode garantir que as avaliações sejam feitas de forma justa e imparcial, acompanhadas de entrevistas para acessar os pontos fortes do candidato", afirma Belluomini. "Há muito mais a ser analisado, além do signo", completa.

Deborah Worthington conta que participou como astróloga em alguns processos seletivos. "Minha bagagem profissional (como terapeuta) no mundo corporativo e meu treinamento em astrologia me habilitavam para esse trabalho", diz.

Ela relata que recebia uma descrição do cargo e os dados de nascimento das pessoas. "Esses candidatos sabiam que esse seria um dos critérios de avaliação, mas não o único, e autorizavam formalmente a sua aplicação", diz.

"Meu papel era, com perfil do cargo em mente, traçar um perfil do candidato, indicando pontos fortes e fracos, desafios e oportunidades. Importante destacar que era feita a análise de todo o mapa e não apenas do signo solar ou ascendente", afirma Worthington.

Marco Tulio Zanini diz que pode haver casos em astrólogos sejam chamados para auxiliar no andamento de uma empresa. "Isso é uma decisão pessoal do empresário e ele pode procurar a astrologia como medida para ajudar na gestão de seus negócios", pontua o professor da FGV. No entanto, ele afirma que a astrologia não deve, em nenhuma hipótese, estar entre os critérios de decisão sobre a contratação de um funcionário. "Nem mesmo com a ajuda de um astrólogo", assevera.

As astrólogas ouvidas pela reportagem, porém, afirmam que a área pode ser trabalhada de forma correta durante uma entrevista, caso seja aplicada com critérios adequados e por um especialista no assunto. "Quando há uma pessoa que estude sobre astrologia, é uma avaliação completamente diferente de um curioso, que vai julgar o candidato somente pelo signo solar dela. Uma avaliação de um astrólogo treinado pode esclarecer e ajudar na escolha do candidato, sim", diz Abramo.

"O problema não é usar a astrologia como uma técnica auxiliar para avaliar um candidato. O problema é usar um detalhe da astrologia, por parte de um amador ou curioso, para definir se a pessoa vai ou não obter a vaga", defende Abramo. "A astrologia pode ser uma forma de apoio. Mas ela deve ser somada a outras ferramentas para a avaliação de um candidato", declara Worthington.

O psicólogo José Mauro Nunes, professor de recursos humanos na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e consultor organizacional em empresas, ressalta que o tema é polêmico. Porém, ele argumenta que não há experimentos, do ponto de vista científico, que atestem que a astrologia funciona para definir as características de uma pessoa.

"Não há nada que assegure que a previsão astrológica do perfil de uma pessoa vai impactar no desempenho dela no trabalho. Uma coisa é recrutar com bases e métodos científicos. Outra coisa é usar esse tipo de conhecimento, que tem popularidade, para algo sério como uma entrevista de emprego. Astrologia não é um método científico", declara.

"Na psicologia há métodos científicos, baseados em estudos, para avaliar um candidato. Mesmo assim, a gente revê os perfis das pessoas e há discussões sobre esses métodos. Então, imagina avaliar por um mapa astral? Independente do modo, é muito perigoso usar o signo para definir um candidato", diz Nunes.

Fonte: BBC/Brasil
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