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sábado, 23 de julho de 2022

A missão de um Babalawô não é fácil





A "Mão de Ifá" era, pois, a coroação de anos de esforços e estudos, sendo sancionada em ritual próprio que promovia a junção do Natural com o Sobrenatural, do Método com a Intuição Psíquica, induzida pelo transe mediúnico leve, que abria canais da percepção extra-sensorial do Babalawo para a presença do Ase dos Orisa Orunmila Ifa e do Imole Esu, já que o Babalawo jamais "caía" em transe mediúnico possessivo, sendo essa, na verdade, além de todos os conhecimentos já referidos, a grande diferença oculta, o Ero ou "Segredo" exotérico, entre o verdadeiro Babalawo (Senhor do Segredo) e o Babal’Orisa (Pai do Orisa) ou "Pai-de-Santo". 

Esta "Mão de Ifá" era representada materialmente por um conjunto de 16 (dezesseis) caroços dos frutos do Dendêzeiro, limpos de suas cascas moles, suas cascas duras polidas pelo uso constante e consagrados em ritual próprio, conhecidos em específico por Ikin (coquinhos de dendê), juntamente com um tabuleiro de madeira, geralmente circular, com mais ou menos 35 cm de diâmetro, levemente polido o seu fundo, mas com uma borda entalhada mais alta, a qual delimitava um "espaço sagrado", tabuleiro este chamado de Opon Ifa, justamente o "Tabuleiro de Ifá". 

Como o termo Awo pode significar "segredo" ou "tabuleiro", os Babalawo também eram conhecidos pelo título de "O Senhor do Tabuleiro". Recebia também o segundo instrumento consagrado, o Opele Ifa ou a "Corrente de Ifá", agora confeccionado com uma dupla corrente de ferro, cada lado mantendo juntas 4 meias-sementes da oko (árvore) Opele Oga (Schebera Columgensis), derivando daí o nome pelo qual este instrumento era conhecido. Mas, antes de receber estes instrumentos consagrados, o antigo Omo Awo, tendo passado pela fase de Akopo, era submetido agora a um dos rituais mais antigos da Humanidade: ele era "mergulhado" na Eerupe ou "Lama", matéria prima primordial da Existência, matéria de onde viemos e para qual um dia voltaremos e onde, ritualmente, "morria" o antigo Omo Awo e "nascia" o novo Babalawo.

Só a partir daí, o novo Babalawo podia praticar a Divinação Sagrada por si próprio mas, mesmo assim, à cada 16 dias, no Ojo Awo ou "Dia do Segredo", ele devia se reunir com seu Ojugnonan, para continuar seus estudos e, com isso, ser apoiado pelo mesmo em sua incipiente prática pública. 

As dificuldades da Iniciação de um verdadeiro Babalawo do passado não são poucas; a Iniciação ao Sacerdócio do Orisa Orunmila era e ainda é a única iniciação intelectual entre todos os outros cultos aos Orisa e Ebora. Ademais, como existiam 4 (quatro) graduações superiores na carreira de um Babalawo, sendo que a última tinha 16 (dezesseis) supra-divisões, pode-se sentir que o tempo de estudos e práticas de um Babalawo não terminava nunca e tornar-se respeitado e em ascensão na "carreira" escolhida, era tarefa para toda uma vida. 

Só que na verdade, ninguém pretendia tornar-se Babalawo para ganhar dinheiro, pois era popularmente conhecido um Verso dos Contos de Ifá: -"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifá eni pá"- -"Qualquer que seja a soma que agrade alguém, é aquela pela qual receberemos para jogar Ifá". E assim, alguém era encaminhado ou encaminhava-se para ser um Babalawo em decorrência do cumprimento do seu próprio Iwa ou "Destino", revelado pela própria Divinação, embora também fosse bem conhecido um outro ditado popular, o qual consagrava o "status" social de um Babalawo : -" Um ancião que aprendeu Ifá, não precisa comer nozes de Kolla deterioradas." Não era quanto ganhava um Babalawo de Eru ou "Pagamento" que fazia a sua fama; a sua reputação era proporcional ao seu sucesso em aliviar as aflições de seus fiéis consulentes e não os seus bolsos: nos Versos dos Contos de Ifá pode-se ler que até o pequeno pagamento estipulado para seus serviços, muitas vezes, era determinado que parte dele deveria ser disribuído entre os necessitados ou financiar um repasto comunal. 

Se firmava, ele ascendia à classe dos Oluwo ou "Senhores do Segredo", tendo acesso à cargos públicos e jamais precisaria, "comer nozes de Kolla deterioradas", isto é, não passaria dificuldades financeiras. Mas, a única forma para isso era estudar, praticar muito e bem cumprir seus deveres rituais para com o Orisa Orunmila, não lhe bastando somente uma efêmera fama. Mas isso não era fácil se ele não estivesse realmente capacitado, porque embora fosse possível, mais teórica que praticamente, a um Babalawo inescrupuloso obter destreza suficiente no manejo dos Ikin ou "Coquinhos de Dendê" para forçar o "aparecimento" de uma determinada Ona Ifa ou "Trilha de Ifá" que lhe interessasse, ele sempre esbarraria no fato de seus consulentes conhecerem meios de impedir tal prática, mesmo que, aparentemente, o Babalawo estivesse seguindo o sistema regular de normas. 

A ação divulgadora dos Akisa ou "Aqueles que louvam a Divindade" era das obras mais importantes, leigos graduados no culto e que recitavam para o povo as lendas e os louvores do sistema, nas quais apareciam com freqüência precedentes históricos que clarificavam, na mente dos consulentes, quais eram as regras a serem obedecidas pelos Babalawo. 

Qualquer desvio mínimo destas regras por parte de um Babalawo, era imediatamente repudiado pelo consulente e severamente punido pela Confraria de seus pares. Ademais, o Babalawo que intentasse qualquer desonestidade, mesmo que fosse para agradar ao consulente, ainda esbarraria no fato de que, além de não precisar dizer-lhe qual o objetivo que o levava à consulta, este podia até inverter ocultamente este seu objetivo, mesmo no caso de escolha entre respostas alternativas. 

Portanto, ser um Babalawo não era uma tarefa fácil e graciosa, mas sim árdua e espinhosa em estudo, prática, tempo, memória e perspicácia ao usá-la, embora a sua "carreira" fosse passível de erguê-lo, social e politicamente, na sociedade Yoruba, até acima do poder dos Oni ou "Reis", pois até estes deviam consultar a Divinação Sagrada, senão para si mesmo, mas necessariamente para os próprios "Negócios do Estado", pois também o alto funcionalismo do Estado era escolhido ou sancionado pela Divinação Sagrada.


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Os códigos do Ifá e os caminhos da alma - em busca do destino, do amor e da felicidade




E observem, que em Ifá a estrutura de interpretação de um odù é a mesma. Só que a gente faz isso para 256 odù e não somente para 16. Também, não se tem todas as histórias de cada odù cada escola ou axé pode ter o seu conjunto e que pode variar em relação a outro. Mas também existem gênios em Ifá São aqueles que dizem que existem 2.046 odù. Não existem. De novo, a mesma genialidade que transformou odù em Caminho pegou as histórias que compõe um odù, que podem ser 16 para cada odù, em novos odù. Coisa de gênio, não? Mas não é. Um odù pode ter interpretações diferentes e as histórias trazem essas possibilidades. Se não fosse assim teríamos que considerar que todos os problemas da humanidade se resumiriam em 256.

Orunmilá, a Testemunha do Destino e da Criaç;ão. O segundo após Olodumaré. Aquele que estava presente, ao lado de Deus, quando a Vida, o Mundo, o Homem foi criado. Orumilá tudo vê, tudo sabe, tudo conhece. Não há nada que tenha sido criado ou que virá a ser criado que Orumilá não saiba antes. Orumilá conhece a vida e conhece a morte, ele conhece a existência: o antes e o depois. Por isso ele pode ajudar. Guia, profeta, professor, divindade, Orumilá/Ifá deve ser compreendido como um sistema: é o homem e sua ferramenta. Por vezes o homem é a sua própria ferramenta. Orumilá é tanto humano quanto espírito. Enviado por Olodumaré para ir a diferentes lugares sempre que há necessidade para ajudar os homens a enfrentarem seus problemas, contornando obstáculos e desenvolvendo o seu bom caráter. Podemos também imaginar Orumilá como o espírito de Olodumaré manifestado no homem. Alguns dizem que a palavra Orumilá deriva de Oro-Omo-Ela ou Oro= palavra/espírito, Omo= filho, Ela= Deus. Após a Criaç;ão, Orumilá veio à Terra como a divindade encarregada por Olodumaré para ensinar os homens. 

Ifá é o Oráculo, o sistema divinatório composto de diversos métodos. Os mais conhecidos são o Opele, o Ikin e o Merindilogun ou jogo de búzios. Orumilá é a divindade e Ifá é o sistema onde esta divindade se manifesta. Não há Ifá sem Orumilá e nem Orumilá sem Ifá. Estes dois conceitos são tão intimamente relacionados que muitas vezes referimo-nos a Orumilá como Ifá.E quem é Orumilá? Orumilá é a divindade da sabedoria e do conhecimento, responsável pela transmissão das orientações dos deuses e de nossos ancestrais, de maneira a permitir a cada um de nós a possibilidade de uma escolha acertada para uma vida feliz. 





 O Verger publicou essas histórias, há muito tempo atrás, preservando inclusive o linguajar, mas a Aninha não gostou e ele nunca mais republicou o livro. Depois o Prandi publicou as mesmas histórias tendo como fonte o Agenor que tinha esse habito de dizer que as coisas dos outros eram dele, quando não eram, e era o mesmo material da Aninha já publicado pelo Verger. Depois disso o Beniste publicou essas histórias em uma forma interpretada no seu livro o Jogo de owó eyo merindinlogun. Ele não publicou as histórias completas e sim uma interpretação do seu significado. Nesse livro cita a fonte de sua pesquisa e a autoria do material original.

Ao todo são 72 histórias. Cada odù até ika tem histórias, 4 ou 5, sendo que ejionile tem 8. Essas histórias foram chamadas de os caminhos dos odù, porque para um mesmo odù elas davam opções diferentes, criando assim caminhos de interpretação para aquele odù. Foi dai que eu acredito que uns gênios, entenderam que odù era caminho, mas, eu acho que eles confundiram as histórias que criavam os caminhos em cada odù com odù ser um caminho. O livro do Prandi-Agenor se chama Caminhos de Odù, porque o conteúdo de é apenas e unicamente as 72 histórias associadas a cada Odù. Então dai para entender que, Odù = caminho foi apenas um passo, de cego, é claro.



 O eerindinlogun é um sistema que se baseia nas histórias e simbolos de Odù, tanto quanto todos os outros. Isso é uma afirmação básica e não uma hipótese. É claro que como eu disse, precisa-se de fato usar o instrumento, os búzios, e o conteúdo, Odù com suas histórias e símbolos. O simples uso dos búzios não caracteriza um oráculo de odù e essa afirmação é devido as variações que são encontradas principalmente devido a mediunidade dos olhadores.

E no Brasil tem vários métodos de jogar buzios. Um dos métodos é o famoso método que bangboxe trouxe para o Brasil, e que trouxe o odù para os buzios. É nesse método que encontramos as 4 caídas, onde aparecem 4 odù. A descrição do método foi feita de forma bem clara pelo Jose Beniste no seu livro O jogo de Búzios, dentro do universo de poucas obras que temos, é uma obra de referência no assunto. Entretanto eu tenho algumas observações sobre o uso desse método para trabalhar com Odù. Mas, as pessoas que usam esse método hoje não guardam o seu formato inicial preservando as histórias associadas a cada odù. Essas histórias hoje estão em 2 fontes mas são todas originas da mesma pessoa, é o material da Iyalorixa Aninha.



 Terra Odus: Irosun, Egi Laxeborá, Iká Ori e Obará. Representam o caminho da tranqüilidade e da riqueza. Água Odus: Egi Okô, Ossá, Egi Ologbon e Oxé. Representam o caminho da dúvida ao triunfo. Ar Odus: Onilé, Ofun, Obé Ogundá e Aláfia. Representam o caminho da indecisão até a paz. Fogo Odus: Okaran, Odi, Owanrin e Eta Ogundá. Representam o caminho da insubordinação até a guerra.

O oráculo do candomblé e de parte da UMBANDA, o erindinlogun sempre serviu e continuará servindo com louvor a tudo o que é necessário fazer em uma casa de santo. Esse oráculo representa sim uma forma autêntica e verdadeira de diálogo entre nós e o divino, entre nós e os Orixá, entre nós e Orunmila. Se não fosse assim tudo seria errado ou sairia errado, e não é isso o que ocorre. Mas, Orunmila fala através de odù, isso é definitivo. O owó eyo merindinlogun pode ser usado para se obter resposta através de Odù. Existem 2 formas. A primeira é a mais clássica que todos conhecem e que usa os 16 odù méjì: ogbè, oyeku, ìwòrì, òdí, obàrà, okànràn, ìròsùn, owonrín, ògúndá, osá, ìrete, òtúwà, òtúrúpọ̀n, ìka, oxe, òfún. Aqui no Brasil o método de banbogxe ficou mais conhecido mas hoje em dia existem outros. Pode-se ainda usar o owó eyo merindinlogun para ler um dos 256 odù, como os cubanos fazem e ensinam. 

Diz-se que, nos primórdios dos tempos, não existia separação entre o céu e a terra (orum-aiyé) e que havia uma convivência íntima entre os orixás e os seres humanos; todos podiam ir ao órum e voltar quando desejassem. Porém um certo dia, o homem desonrou seu compromisso com ólorum, pecou contra o supremo ao tocar o que não podia ser tocado ou comer o que não podia ser comido. E assim,o mesmo dividiu o céu e a terra. O privilégio da livre comunicação desapareceu em troca das diferentes formas oraculares estabelecidas e legadas por orunmilá Odús (signos de ifã), são presságios, destinos, predestinação. Os odús são inteligências siderais que participaram da criação do universo; cada pessoa traz um odú de origem e cada orixá é governado por um ou mais odús. 

Cada odú possui um nome e características próprias e dividem-se em "caminhos" denominados "ese" onde está atado a um sem-número de mitos conhecidos como itàn ifá. Odus são os signos de Ifá, o resultado do jogo. Segundo as lendas do candomblé africano, os Odus representam os destinos criados por Olorum, com todas as características da vida cotidiana e baseados no comportamento e temperamento humano. Então os Odus, seriam os signos do destino que regem cada orixá, que por sua vez, regem cada homem sobre a terra. Os odús são os principais responsáveis pelos destinos dos homens e do mundo que os cerca. Os orixás não mudam o destino da vida e sim executam suas funções dentro da natureza liberando energia para que todos possam dela se alimentar. 

 O odú é o caminho, a existência do destino o qual o orixá e todos os seres estão inserido. Alguém já escutou a seguinte frase ? -com o destino não se brinca... -sua vida esta escrita... - seu destino já estava escrito... E muitas outras frases populares que refere-se a odú. Cada pessoa pode ir de encontro ou seguir um caminho alheio ao destino estabelecido, isso nós dizemos que a mesma está com o odú negativo, ou seja: seu destino sua conduta foge as regras siderais, ou seja, seguiu um caminho negativo dentro do estabelecido. Nós quando nascemos, somos regidos por um odú de ori (cabeça) que representa nosso "eu" assim como odú de destino, espiritualidade...


Destino e os 16 caminhos das pessoas




Os primeiros 16 odù são os odù meji, indo de ogbe meji até orangun meji. Depois disso é feita uma combinação entre cada odù e os conseguintes, formando de ogbè-oyeku até ogbè-òfún e depois indo para oyeku- ogbè e na mesma lógica.

Para que eu estou explicando tudo isso? Para reforçar que NÃO existe odù que não tenha 2 pernas ou seja que não seja um dos 256 odù, formado por 2 partes. E repetindo, mesmo os odù meji, os 16 primeiros, que são os usados no merindinlogun tem que ter 2 pernas, porque Odù meji tem 2 pernas, lembram ogbè-ogbè = ogbè méjì.

Em Ifá o resultado de uma consulta a Orunmila é um odù. Um e somente um. Tudo se inicia com determinação desse odù. Com o opele um processo rápido. Com os ikins mais demorado, mas o resultado é o odù que veio em resposta.

Temos o que se pode chamar de uma segunda parte da consulta que é a qualificação do odù. A seguir como já expliquei, se determina de está em ibi ou ire. Depois o tipo de ibi ou ire. e se for em ibi a origem desse tipo. Com isso se completa a qualificação do odù que veio em resposta à consulta.


sábado, 4 de junho de 2022

Odús são ordenados por meio de uma hierarquia




Em Ifá, a consulta ao oráculo é feito usando uma corrente com metades de semente chamada opele ou com os caroços de dendezeiros chamados de ikin, esses são os instrumentos básicos de um Babaláwo. O processo da consultar é assim:

Usa-se o opele ou os ikins para formar o desenho de odù, um dos 256 Odù, que é uma figura formada por 2 pernas. Cada uma das pernas é um dos 16 odù principais. Essa é a anatomia de um odù, uma formação gráfica composta por 2 partes, ou 2 pernas (ou patas com dizem os cubanos). Essa figura é traçada da direita para a esquerda assim se lê o nome do Odù da direita antes do da esquerda. Os odù são compostos de uma coluna de traços duplos ou simples, no total de 4. Para se ter um odù SEMPRE tem que se ter 2 pernas ou seja as 2 partes dessa figura.

Os odù são ordenados através de uma hierarquia, ou ordem de senioridade e essa ordem de senioridade serve para definirmos qual é o mais velho e por conseqüência qual ìbò escolhemos.


 Odù é a base da comunicação de Orunmila, e como muitas palavras em yoruba ela é usada para várias coisas. Odù são marcas gráficas, assinaturas, que representam um símbolo. A este símbolo estão associadas histórias e versos que formam a famosa e tão pouco conhecida literatura de Ifá, poemas de Ifá, que eram transmitidos oralmente, mas que hoje já encontramos escritos. Esse conjunto não é completo, muita coisa se perdeu, ou uniforme cada escola de Ifá tem o seu que pode ter variações em relação a outras. É interpretação dessas histórias que podem estar na forma de mitos ou de poemas é que vem o significado de um Odù. A mensagem que um odù traz para nossa vida esta contida nas histórias que são associadas a ele.

Odù também é uma energia divina que vem de Orunmila para nós em resposta à consulta ao oráculo. Assim além de ser um símbolo gráfico, além de conter através de suas histórias significados para nossa vida um Odù também é a resposta a nossa aflição. Essa energia primária vem através do oráculo e será utilizada pelo Babaláwo junto com os Orixa para nos ajudar. Odù não é um caminho e nem significa caminho. A palavra Yoruba significa com recipiente grande para conter algo dentro, como uma cabaça.

Em termos quantitativos são 256 Odù. Existe uma matemática nesses números. São 16 figuras diferentes, feitas com a combinação de traços duplos ou simples. Como cada odù é formado pela combinação de 2 figuras, então teremos 16 x 16 = 256 odù. Nessas 256 figuras diferentes, aquelas onde o mesmo símbolo aparece repetido, são chamados dos Odù Méjì, ou principais. Esses Odù são ordenados de acordo com uma ordem arbitrária definida e Ifá que seria a ordem nos quais esses odù chegaram ao mundo. Existe ainda uma maior relevância para os 4 primeiros Odù. Os Odù que não são os Méjì são chamados de Omo Odù ou Odù filhos. Toda a comunicação entre Orunmila e nós através dos Babaláwo é feita usando Odù.


 O eerindinlogun e Ifá

A prática do oráculo no Candomblé tomou mais de um caminho ao longo da nossa história e sofreu influência diversas. A primeira coisa que eu lembro a todos é que Ifá e oráculo são sinônimos no Candomblé e muita gente pode até desconhecer que exista um culto separado destinado a Ifá ou a divindade Orunmila. Assim da mesma forma como Ifá e Orunmila são em certo aspecto sinônimos em Ifá, no Candomblé, Ifá e oráculo são sinônimos, sem que isso seja necessariamente vinculado a Odù. Assim, por muitos anos temos ouvido as pessoas chamarem o seu oráculo de Ifá sem que isso guardasse qualquer vínculo com o Culto de Ifá e com o Oráculo de Ifá. Hoje a gente saber que uso de Odù no oráculo do Candomblé é opcional e não dominado por muitos.


Lêr odús com números é a bela Odulogia


Para entender melhor o método de Ifá deve-se estudar os principais Odus, que são 16 ou para alguns 17, incluindo-se Exu, conhecido como Eredilogum, onde esse jogo é dado a Exu e a Oxum para que se pudesse descrever a forma de culto ao orixá, lembrando que através do jogo de obi, opolê e ikin pode-se identificar também os omolodus ou Omo odus. Esse ciência foi perdida com o passar do tempo, alguns babalaos tentam resgatar o culto da forma mais tradicional, mas alguns babalaos vindo recentemente Brasil trazendo uma nova forma de culto,uma nova forma de Ifá. Pois na tradição africana, os mais antigos o isefá, o isefá era uma forma principal de culto para se tornar uma awo ofá, mas hoje as pessoas não chegam a fazer o isefá, apenas fazem o culto a orumilá, esquecendo de agregar ori ao cotidiano do ser humano para que ele possa ter uma vida melhor. Desta forma muitos babalaos acabam perdendo também as suas tradições, e tendo que retornar a África para relembrar e rever alguns conceitos. Continue lendo...


sábado, 19 de fevereiro de 2022

Categorias, estatus e deveres dos babalawôs


Segundo nos contam os pesquisadores e Santeros de Cuba e outros paises latinos e que muitos pais de santo do Brasil, apenas pegaram os conhecimentos e publicaram livros como se fossem seus conhecimentos, quando na Umbanda o conhecimento sagrado não tem dono, que, todo Babalawo se esforçava para alcançar, sucessivamente, as 3 (três) categorias imediatamente superiores de sua "carreira" e, se alcançadas estas três, estivesse habilitado também por seu nascimento em uma das 16 (dezesseis) famílias nobres fundadoras de Ile Ife ou "Cidade Santa de Ifé", ele habilitava-se a disputar ainda uma das 16 (dezesseis) supra-divisões hierárquicas e vitalícias dos Awoni Babalawo ou "Adivinhos dos Segredos do Rei" ou do "Estado". 


As mais vistas da semana



Os grandes mestres e estudiosos do Projeto Orumilá, trazem todos os fundamentos e ética de todos os santeros. Há uma cerimônia chamada Pinaldo que tornam os indivíduos iniciaram como intérpretes do subsistema oracular Dilogún que passou Yoko Osha cerimônia. Durante o mesmo ritual acontece em todo o Ogun Osha e receber as ofertas e definir todos os orixás orixás que dedicaram pessoa quando começou, conseqüentemente, o indivíduo recebe um novo depois que Itá é o núcleo de sua vida. Para todos aqueles que foram iniciados sacerdotes Pinaldo mais velhos são considerados e tratados com respeito. Esta cerimônia significa que o indivíduo pode fazer sacrifícios de animais já adquiridos faculdade ou atribuição é chamado de energia. Os indivíduos que receberam Pinaldo são chamados "Pinalderos". O primeiro degrau da ascensão na carreira religiosa era a condição de Elegan ou "Aquele que tem Elegan" e aqui compreendendo-se "Elegan" como o conjunto composto pela já conhecida Apo ou "Bolsa", mais o seu conteúdo Abira ou "Conjunto de objetos sagrados e folhas medicinais", todos eles portadores de Ase Orisa (força Mágica dos Orisa) e com os quais se praticava, além da Divinação Sagrada, uma terapia médica natural e psico-somática.

Awo Elegan é um sacerdote de Ifá iniciado que não vê Odu ou não está exposto ao segredo de Odu. Such Awo é iniciada, mas nunca pôs os olhos em Odu nem participar de qualquer coisa usada em rituais Odu. O Odu que estamos falando não é odu Ifá (Ifa capítulos/sinais), mas um poderoso Orixa feminino. Há duas antigas, origens divinas do Awo Elagan, ou seja, por que algumas pessoas não podem ver Odu. Essas razões são aceitáveis ​​em excussões Ifa iniciação, mas a terceira razão não é sustentável e deve ser desencorajado.

Em primeiro lugar, Orunmila tinha muitas mulheres já antes de ele se deparar com Odu em uma floresta ribeirinha quando ela apareceu. Eles concordaram em se casar como visto no Odu Ifa Ofunmeji com base em regras que incluem "nenhuma mulher deve sempre colocar os olhos sobre ela ...". Orunmila concordou e não permitir que as esposas senhoras não tinha permição para ver esta nova esposa. Até mesmo, aquelas que ele se casou com ela depois e de não pôr os olhos em cima dela. Além disso, todos os 16 filhos de Odu poderia ver a sua mãe, mas seus  meio irmãos e meia irmãs foram proibidos de vê-la. Portanto, após a sua ascensão e inclusão de seus rituais de iniciação em Ifa, apenas seus descendentes / proles estão autorizados a colocar os olhos sobre ela. Esta é a primeira razão pela qual alguns Awo são chamados Awo Elegan, ou seja, aqueles que não podem ver Odu. Aqueles Elegan Awo são os filhos das outras esposas de Orunmila. Eles podem continuar a fazer o seu rito iníciatório, em consonância com isso, ou seja, sem Orixa Odu.


Em segundo lugar, no odu Ifá Otuasaa, Awodi foi enviado por Alapansiki que ir e fazer rituais para Olokun. Embora Awodi não foi iniciada, pois, ela estava ainda em formação, ela fez a tarefa, porque, Alapansiki, o filho de Ajagunmole havia abençoado e dado o poder de him. He foi homenageado e enriquecido por Olokun. Olokun, que não sabia Awodi que não foi iniciada pediu-lhe para iniciar seus filhos para ele. Awodi realizara a iniciação com sucesso o caminho do Elegan porque, ele mesmo não tinha sido iniciado e muito menos os olhos em Odu.

O início sem Orisa Odu foi bem sucedido porque, Alapansiki, abençoou-o antes que ele deixou para o lugar de Olokun. Na crise que se seguiu entre Awodi e seus iniciados os seniores (Agbe e Aluko), que queriam Awodi desgraçar, ele puniu. Mas, um deles (Odidere) deu Awodi respeito com esta declaração: Telegan tolodu la jo n Sawo ... Ambos Elegan e Olodu, somos todos um ... Ele era capaz de voltar para casa para informar o seu pai, Alapansiki, tudo o que aconteceu. Em vez de amaldiçoar Awodi, Alapansiki culpou os sacerdotes mortos por Awdi para fazer tentativa de desgraçar ele. Ele disse Odidere que ele havia abençoado Awodi antes que ele deixou e tudo o que ele fez na casa de Olokun será eficaz. E que aqueles que são iniciadas por Awodi deve continuar como Awo Elegan e ninguém deve ridicularizar-los. Com isso, ele aprovou a declaração Odidere de que "Ambos Elegan e Olodu somos todos um ..."

A terceira razão pela qual alguns Awo são Elegan hoje é moderno e patético. Alguns sacerdotes de Ifá não são iniciadas e têm oportunidade de iniciar afilhados. Porque eles não são iniciados, eles não vêem Odu e irá fazer só o início, de acordo com Elegan, ou seja, sem Odu. O querer comparar-se com a de Awodi. Eles se esqueceram de que é Awodi Awodi e só isso Alapansiki abençoado com esse direito. Pode ser, eles também têm sido abençoados por Ajagunmale, Alapansiki ou mesmo Orunmila para realizar iniciação sem ter sido iniciado, quem sabe? Além disso, alguns sacerdotes iniciados de Ifá iniciam seus afilhados no exterior em linha com Awo Elegan. A razão é que os sacerdotes envolvidos Ifa ir para países no exterior sem este Orixa poderoso que deve estar presente sempre que Ifá na iniciação é para acontecer e eles não podem voltar para casa para o início ou enviar para o Orixa, eles só vão fazer a iniciação sem Orixa Odu. Aqueles que iniciam assim vai se tornar Awo Elegan, ou seja, eles não podem nem participar de qualquer coisa usada em apaziguar / fazer rituais Odu nem olhos postos no Orisa. Esta é a terceira razão para Awo Elegan. Por isso, hoje, especialmente no exterior, temos milhões de Awo Elegan.  Quase sempre, nesta fase, eram desvinculados de qualquer cidade, sendo muitas vezes itinerantes. Ao contrário dos mais graduados, o Babalawo Elegan era obrigado a manter a sua cabeça sempre totalmente raspada e a descobrí-la, caso portasse alguma cobertura, quando em presença de outros Babalawo de categorias superiores.

O segundo degrau de ascensão na carreira, após alguns anos de prática, era a obtenção da condição de Ol'osu ou "Aquele que Tem o Tufo de Cabelos", numa clara alusão da permissão de deixar crescer um "tufo" de cabelos circular, na parte lateral posterior direita do crânio raspado, demonstrando assim que já eram plenamente habilitados e em pé de igualdade com os Adosu dos outros Orixas, os quais usavam o mesmo Osu ou "Tufo de Cabelos" (Na verdade, nestes, "Osu" não é só um "tufo de cabelos"). Mas para ser um Ol'osu, o Babalawo precisava pertencer à uma família estabelecida em uma vila ou cidade que tivesse erguido um Origi, um pequeno "monumento religioso", um protegido montículo de terra batida de mais ou menos 35 cm de altura, quase sempre muitíssimo antigo, recoberto de "cacos" de cerâmica ou de louça quebrada, com uma pedra pontuda no topo, projetando-se para cima. Embora o conteúdo do Origi fosse, devesse e deva permanecer secreto, era notório ali a dedicação ao Imole Esu Agba, o "Esu Ancestral". 

Era quando atingia este estágio de Ol'osu que o Babalawo tinha direito a possuir a sua segunda Owo Ifa, a segunda "Mão de Ifá", ou seja, o seu 2º conjunto de Ikin ou "conjunto de 16 coquinhos de dendê", que todo Babalawo Ol'osu devia possuir. O terceiro degrau na ascensão religiosa de um Babalawo era a condição de Ol’Odu ou "Aquele que Tem o Odu". Embora o termo Yoruba Odu, em seu significado mais restrito, signifique algo "grande" ou "volumoso", no Culto do Orisa Orunmila, este termo tem três outros sentidos referenciais: 

Primeiro sentido referencial: - nele, Odu pode significar a "Figura Gráfica" que é riscada no Iyerosun ou "Pó Branco Consagrado" do Opon ou "Tabuleiro"; Segundo sentido referencial: - nele, Odu pode significar o conjunto de Ese (Verso) de um Itan Ifá (Conto de Ifá), ligados ritualmente às 256 figuras gráficas acima citadas. É quando o termo Odu merece realmente o designativo de "Fundamento de Tradição"; Terceiro sentido referencial: - nele, Odu designa especificamente um "objeto físico", um recipiente de madeira, de forma cilíndrica, pintado nas cores brancas, vermelha e preta e que simbolizavam respectivamente os princípios do Iwa ou "Poder da Existência", do Ase ou "Poder da Realização" e do Aba ou "Poder da Essência", cujos elementos físicos portadores da magia de cada um destes poderes acham-se no seu interior, e, ainda, respectivamente, representam os Imole Irinwo Funfun ou os "Orixás Geradores da Brancura", as Igbamole Iyami Dudu ou as "Eborás Grandes Mães Gestantes da Negritude" e os Orisa Omokurin e Ebora Omobirin Pupo ou os "Orixás e Eborás Descendentes da Vermelhidão".

E este Odu, enquanto objeto material, era um símbolo de extraordinário poder e era típico da Cultura Yoruba, com a sua prática junção do Natural com o Sobrenatural, que os Babalawo Ol’Odu pudessem usar estes Odu, enquanto objetos, como assento ritual em cerimônias públicas, mas consistindo, entretanto, grave sacrilégio que estranhos sequer tentassem abrí-los. Esta Entidade Espiritual comunicante com o novo Ser Vivente, depois de detectada e confirmada a sua influência pelos processos do Oráculo de Ifá, deve ser considerada como o "possuidor" da Ori Inu ou "Cabeça Interna", ou seja, da nova "Personalidade Individual Terrestre" daquele novo Ser Humano e/ou Ancestral novamente encarnado, ou seja, o seu Oluware, portanto, e no máximo, o seu Oba Mi ou "Meu Senhor" ou Iya Mi ou "Minha Senhora", pois que o seu verdadeiro Criador sempre foi, é e será Deus. Assim, sempre por intermédio do Orisa Orunmila em sua Divinação Sagrada de Ifá, aqueles demais Awon Orisa podem ajudar ou cobrar do Ser Humano os compromissos com eles assumidos, de forma que ele possa bem consumar seu Destino ou corrigir os desvios que poderão levá-lo ao fracasso, mas sem jamais interferir no livre arbítrio de cada ser.
Foi sobretudo este relacionamento "pré-estabelecido no Além" com os Awon Imole ou "Seres Sobrenaturais de Categoria Divina" a parte da Teologia Iorubá que foi a mais lembradada pelos descendentes de seus féis escravizados e que levou à criação dos Candomblés de Nação Africana no Brasil para cultuá-los, assim como, foi o Culto aos Awon Onile ou "Ancestrais" a parte mais absorvida e praticada pela Umbanda do Brasil.

Entretanto, é somente o Ara Orun Imole Irunmole Oju Kotun Orisa Funfun Orunmula-Ifa que é o verdadeiro Arauto dos Desígnios Absolutos de Deus sobre o Destino de todos os Seres Terrestres, destino este que pode ser confirmado ou corrigido pela Divinação Sagrada de Ifá, para que cada "Criança" nascida na "Casa de Ifá" tenha condições espirituais de muito bem cumprir aquilo que ele próprio solicitou a Olorun no Além e, assim, poder apresentar-se novamente perante Êle em seu Ol'ojo ou "Dia Marcado" para retornar ao Além, acrescentando a seu Duplo no Além a Soma de seus sucessos ou fracassos em relação a seu Destino nesta Terra da Vida, já não tão Ilu Aiye Odara. E esta é a verdadeira função da Divinação Sagrada de Ifá : fazer com que as "Crianças" de Orisa Orunmila-Ifa cresçam em méritos espirituais por conhecerem à si próprias e bem cumprir o seu próprio Destino livremente escolhido no Além perante Deus!

Normalmente, este objeto sagrado, o Odu, era guardado sobre a Itage ou "Plataforma de terra batida" mais alta que o chão do Sasara ou "Alcova" do Akodi Okanran ou "cômodo principal" do Ile Ifa ou a "Casa de Ifá", onde era terminantemente proibida a entrada de mulheres e, até, de homens não iniciados no culto. Assim, estes Odu e até sua versão menor, o Apere, eram construidos de forma a não serem facilmente abertos, pois dizia a lenda, "Jamais deveria ser aberto, a menos que o devoto estivesse extraordinariamente angustiado e, por conseguinte, ansioso por deixar este mundo", e portanto, ser um Babalawo Ol’Odu era ser o detentor de um extraordinário Oso ou "Poder Mágico" e só a partir deste ponto um Babalawo era realmente um Ifatoso ou "Aquele que tem o Poder Mágico de Ifá".

Em resumo, estas, as três primeiras graduações que um Babalawo podia alcançar por seus próprios e exclusivos méritos. A seguir, ou paralelamente à terceira graduação especial, havia um outro posto que era mais um reconhecimento de mérito específico, de certa forma um título honorífico, mas que era necessário para se alcançar algumas funções públicas e, até indispensável à algumas outras: era o título honorífico de Oluwo ou Senhor do Segredo.

Por exemplo: um Babalawo assistente dos Awoni Babalawo tinha que ser um Ojugnonan ou Mestre. Mas isto podia ser alcançado pelo reconhecimento dos méritos de pedagogo de um Babalawo, o que o tornava, automaticamente, num Oluwo. E assim chegamos ao patamar maior do Sacerdócio do Orisa Orunmila Ifá e, portanto, do Credo Yoruba, o quarto degrau da ascensão da carreira religiosa de um Babalawo: a categoria superior dos Awoni ou Adivinhos Reais.

E era por ser um sacerdote do Orisa que é o Arauto dos Destinos dos Humanos que, ainda que um Babalawo atuasse na área específica de outros sacerdotes; conhecesse ou receitasse aplicação de mais ou menos 400 Ewe ou "Folhas Sagradas" e "Medicinais"; controlasse a prescrição e a execução das Adimu ou "Oferendas Defensivas"; exercesse o controle do Oso ou "Poder Mágico", sendo portanto um Ifatoso ou Ifá (ifa) + Tem (Ti) + Poder (Oso) ou, portanto, "Aquele que tem o poder mágico de Ifá" para o manejo dos objetos rituais portadores do Ase ou "Força Mágica Vital"; receitassem e aplicassem as Ogun ou "Práticas de Medicina Natural, Mágica e Psico-Somática"; defendessem aos fiéis dos Aje ou "Feitiços"; praticassem os Ipese ou "Magias Retaliatórias" e fornecessem os Awure ou "Amuletos de Boa Sorte", a sua máxima especialização era a prática constante do A da Ifa fun, ou seja, a "Divinação Sagrada de Ifá", através dos instrumentos consagrados Opon e Opele, para revelar aos fiéis qual era o seu Kpoli ou "Destino Pessoal".

Com tantas responsabilidades, um Babalawo precisava ter um intenso treinamento específico que, em geral, começava aos 7 anos de idade e, na verdade, só terminava por sua morte, uma vez que, devendo ele próprio ensinar o Awo ou "Segredo" a outro futuro Babalawo antes de sua própria morte, ensinar tornava-se uma nova forma de continuar aprendendo com a experiência de seus ancestrais. Aproximando-se, assim, desde a tenra idade à um Ojugbonan ou "Mestre de Ensino", um menino Yoruba agregava-se à família do mesmo e passava a ser conhecido como umOmo Awo ou "Filho do Segredo" e tinha a obrigação de obedecer e servir ao seu Mestre como obedeceria e serviria a seu próprio pai. Mais tarde, em pleno aprendizado, quando já acompanhava o seu mestre em suas saídas públicas, este aprendiz recebia a denominação de Akopo ou "Aquele que carrega a Bolsa", numa clara alusão à sua nova obrigação de carregar a Apo ou "Bolsa" que continha os Abira ou "Conjunto de Objetos Sagrados" que seu Mestre usava ao praticar a Divinação Sagrada.

É verdade que o acesso a esta categoria superior era restrito aos Omo Bíbi ou Bem Nascidos da Cidade Santa de Ilê Ifé. Entretanto, tal procedência e descendência ilustre não eliminava a necessidade de um Omo Awo iniciante percorrer todo o processo iniciatório Elegan-Osu - Ôl’Odu para alcançar o título honorífico de Oluwo.

O fato de um Omo Awo ser também um Omo Bíbi não lhe abria todas as portas : apenas não lhe fechava a última. Assim, teoricamente, qualquer Babalawo iniciante podia aspirar vir a ser algum dia, um Awoni desde que: 1) - fosse um Babalawo praticante; 2) - tivesse "status" de Ôl’Odu; 3) - obtivesse a reputação de Oluwo; 4) - fosse nascido em Ilê Ifé e em uma das 16 famílias aristocratas.

Na realidade, todos os não nascidos em Ilê Ifé jamais chegariam ao posto de Awoni e seriam sempre considerados Elú ou Estrangeiro na Cidade Santa de Ifé pelos Awoni Babalawo. Mas, os que ascendiam à categoria de Awoni Babalawo, obtinham uma função específica vitalícia, ligada a um título também específico, a saber, por ordem de importância : Araba, Agbonbon, Agesinyowa, Aseda, Akoda, Amosun, Afedigba, Adilofu, Obakim, Ôlorí Iharêfá, Lodagba, Jolofinpe, Megbon, TedImole, Erinmi, Elesi. Mas, na verdade, tirando-se o título de Araba que tinha a primazia do Culto e o de Ôlorí Iharêfá que era chefe dos Babalawo que se encarregavam de assuntos do Estado, tratava-se mais de uma titulação aristocrática do que uma graduação religiosa, sobretudo se nos lembrarmos de que a tradição política Yoruba diz que foram 16 Chefes de Clãs Familiares que se reuniram para a fundação da Cidade Santa de Ilê Ifé, assim como a tradição religiosa reza que também 16 eram os Imole que vieram ajudar a reger a criação do Âiyé, instalando-se no Odé Âiyé, a morada das Divindades quando estiveram na Terra.

Como na Divinação Sagrada tudo é 16 + 1, aos 16 Babalawo Awoni devemos acrescentar o Oni ou Rei que, na verdade, em Ilê Ifé, era um teocrata submetido à uma sociedade secreta religiosa -a Oxôgboni- do mesmo modo que aos 16 Imole do Odé Âiyé acresceu-se o Imole Esu. E, na verdade, havia mais uma restrição na carreira final de um Babalawo : o título de Araba, sendo o mais importante, era exclusivo do clã familiar Ilê Oketaxé, o aristocrata Clã da Casa dos Oketaxé. Mas, à parte o título de Araba, os outros 15 títulos dos Awoni eram hierarquizados segundo a antigüidade no posto que era ocupado vitaliciamente.

Como Akopo, o menino em crescimento era submetido à uma disciplina curricular intensa onde se testava, antes de tudo, a sua capacidade de memorização. Além da observação visual e auditiva das práticas de seu Mestre, o aprendiz praticava a identificação e a memorização das 16 (dezesseis) figuras gráficas básicas, chamadas Ona Ifa, para depois então aprender e memorizar as totais 256 (duzentas e cinqüenta e seis) possíveis combinações capazes de serem feitas. Era quando ele já começava a praticar com a forma rudimentar do instrumento Opele ou "Corrente de Ifá" preparado para ele por seu Mestre. Assim, ele aprendia que ao combinar entre si as Ona Ifa dos 16 Odu Baba ou "Fundamentos de Tradição Básicos", formavam-se 256 novas figuras combinadas, mas entre si derivadas e, portanto, denominadas Omo Odu ou "Filhos de Odu". E se o 1º Odu aparecesse combinado com ele mesmo - e isso era válido e possível para todos os 16 Odu básicos - estas figuras duplicadas eram chamadas de Odu Meji ou "Odu de Dois", ou ainda melhor, "Odu Duplo".  Depois, ele aprendia a Ordem de Precedência Hierárquica entre esses 256 Omo Odu, ordem de precedência esta que viria a se constituir na base de sua decisão na prática do Igboigbo ou "procurar o Oculto", quando da escolha entre respostas alternativas à uma pergunta específica. 

Como o Credo Yoruba asseverava que os Orisa são atraídos do Ôrun para o Âiyé pelo som dos tambores sagrados, também o Orisa Orunmila tinha os seus tambores: chamavam-se Firigba, Jongbondan e Keregidi. Todos os anos eles soavam, atraindo Orisa Orunmila, em 4 Grandes Festivais: êgbodó Oni: o Festival dos Inhames Novos do Rei, realizado em Junho; êgbodó Erio: o Festival dos Inhames Novos dos Oluwo, feito em Julho; êgbodó Ifé: o Festival dos Inhame Novos na Cidade de Ifé, em Agosto; êwurin: o Festival realizado em Setembro.

A "Mão de Ifá" era, pois, a coroação de anos de esforços e estudos, sendo sancionada em ritual próprio que promovia a junção do Natural com o Sobrenatural, do Método com a Intuição Psíquica, induzida pelo transe mediúnico leve, que abria canais da percepção extra-sensorial do Babalawo para a presença do Ase dos Orisa Orunmila Ifa e do Imole Esu, já que o Babalawo jamais "caía" em transe mediúnico possessivo, sendo essa, na verdade, além de todos os conhecimentos já referidos, a grande diferença oculta, o Ero ou "Segredo" exotérico, entre o verdadeiro Babalawo (Senhor do Segredo) e o Babal’Orisa (Pai do Orisa) ou "Pai-de-Santo".

Nestes Festivais, somente os Awoni podiam dançar portando o Ìrùkêrê ou Chicote-Insígnia, feito de pêlos da barbicha de bode com o grosso cabo de 1" (uma polegada), símbolo de seu "status" no culto e, portanto, também de seu aristocrático nascimento. Assim o Povo Yoruba saudava os devotos do Orisa Orunmila por diversas denominações, conforme a atuação, fama e/ou categoria que identificava nos mesmos. Só a partir daí, o novo Babalawo podia praticar a Divinação Sagrada por si próprio mas, mesmo assim, à cada 16 dias, no Ojo Awo ou "Dia do Segredo", ele devia se reunir com seu Ojugnonan, para continuar seus estudos e, com isso, ser apoiado pelo mesmo em sua incipiente prática pública.

Ademais, como existiam 4 (quatro) graduações superiores na carreira de um Babalawo, sendo que a última tinha 16 (dezesseis) supra-divisões, pode-se sentir que o tempo de estudos e práticas de um Babalawo não terminava nunca e tornar-se respeitado e em ascensão na "carreira" escolhida, era tarefa para toda uma vida. E se falamos em "carreira" é em sentido figurado, porque ninguém pretendia tornar-se Babalawo para ganhar dinheiro, pois era popularmente conhecido um Verso dos Contos de Ifá:
-"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifá eni pá"-
-"Qualquer que seja a soma que agrade alguém,
é aquela pela qual receberemos para jogar Ifá"-

Assim, alguém era encaminhado ou encaminhava-se para ser um Babalawo em decorrência do cumprimento do seu próprio Iwa ou "Destino", revelado pela própria Divinação, embora também fosse bem conhecido um outro ditado popular, o qual consagrava o "status" social de um Babalawo :  -" Um ancião que aprendeu Ifá, não precisa comer nozes de Kolla deterioradas."-

Porque não era quanto ganhava um Babalawo de Eru ou "Pagamento" que fazia a sua fama; a sua reputação era proporcional ao seu sucesso em aliviar as aflições de seus fiéis consulentes e não os seus bolsos: nos Versos dos Contos de Ifá pode-se ler que até o pequeno pagamento estipulado para seus serviços, muitas vezes, era determinado que parte dele deveria ser disribuído entre os necessitados ou financiar um repasto comunal. Daí a maior procura de seus serviços e, à medida que sua reputação se firmava, ele ascendia à classe dos Oluwo ou "Senhores do Segredo", tendo acesso à cargos públicos e jamais precisaria, "comer nozes de Kolla deterioradas", isto é, não passaria dificuldades financeiras. Mas, a única forma para isso era estudar, praticar muito e bem cumprir seus deveres rituais para com o Orisa Orunmila, não lhe bastando somente uma efêmera fama. 

Carlinhos Lima - Astrológo, Tarólogo e Pesquisador.


quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

A testemunha do destino




Olódùmarè pode concordar com o que pedimos ou não, ou pode ainda definir para nós outros objetivos de vida. Essa conversa é uma das coisas mais importantes para nós e dela poderá depender por exemplo qual será o nosso odù de nascimento, porque ele faz parte do nosso Orí e vai ser definido para nos ajudar na vida que vamos ter aqui no aiye. O nosso Orixá também poderá ser definido nesse momento e também será escolhido de forma a nos ajudar com nosso objetivo de vida. Nesse ponto cabe uma dúvida porque o odù com certeza depende de nosso destino escolhido e atribuído, mas o Orixá não tenho certeza. Eu gosto da visão de que o Orixá não tem restrições no seu poder e qualquer Orixá que tenhamos vai nos ajudar igualmente. No meu íntimo essa ideia de especialização funcional de Orixá, como as pessoas gostam e chegam a dizer que profissão uma pessoa de tal Orixá deveria ter, é uma ideia meio cartesiana muito simplificadora e racionalista. Assim não tem minha simpatia. Uma outra opção é a que nascemos com algum Orixá de nossa família, de Pai, mãe ou avós, assim uma mesma linhagem teriam filhos com Orixá similares e claro sempre se casa com uma pessoa de fora da família e novas opções de Orixá podem ser incluídas. Mas o importante é que como eu sempre disse, nós aqui no aiyé somos a coisa mais importante de Olódùmarè. Esse mundo espiritual, os Orixá existem para nos ajudar a viver e não para nos escravizar ou atrapalhar.


E assim só existe uma testemunha, só existe um testemunho, e ele é Orunmila, e existe para qualquer pessoa. Assim seja no culto de Ifá ou de Orixá você tem que lidar com a mesma divindade, com Orunmila quer você do destino e não 2, se vamos a um oráculo de eerindinlogun para corrigirmos o nosso destino e vamos ter uma resposta para isso, quem está respondendo é Orunmila. Não pode ser Oxalá ou Xangô ou Oxum ou qualquer outro porque somente Orunmila é o testemunho de nosso destino.

 A nossa conversa com Olódùmarè tem apenas 1 testemunho: Orunmila. Assim ele é o único que pode saber o nosso destino. Algumas outras divindades podem fazer parte, uma delas é ajala, outra é onibode, oporteiro do orun. Antes de descermos para o aiyé perante Onibode nós falamos o nosso destino e quando pretendemos retornar.

Mas para nós aqui Orunmila é o elerii ìpin, testemunho dos destino de todos nós e o mensageiro divino aquele que traz as mensagens de Olódùmarè e de todos os Orixa. Quando em nossa vida temos uma dificuldade que não conseguimos resolver, e isto está nos impedindo de seguir em frente, naqueles momentos em que não sabemos mais o que fazer, devemos recorrera a Orunmila consultando o oráculo de Ifá. Essa consulta é ao mesmo tempo um pedido de socorro e Orunmila, o elerii ìpin vai responder de forma a corrigir nossa vida para que possamos seguir com nosso destino.


 No culto de Ifá um Babaláwo se dedica consultar o oráculo para as pessoas e a fazer as ações decorrentes para poder corrigir o problema que Orunmila viu na vida da pessoa, não necessariamente o que a pessoas estava buscando lá. Quando a gente entre nessa área na qual um Babaláwo ou um Babalorixa, atende alguém e faz aquilo o que a pessoa quer ou que resolve o que a pessoa foi buscar estamos na área da feitiçaria e não da religião.

Uma babaláwo não é uma pessoa para fazer santo nos outros ou cuidar de Orixá dos outros, para isso existem os Babalorixa. Um babaláwo trabalha através de Orunmila com rezas, elementos simples e muito através de Exu e Osanyin. Mas basicamente a vida de uma Babaláwo é consultar o oráculo.

Contudo existe uma coisa comum entre Ifá e UMBANDA e Candomblé que é a teogonia a base da religião, que é a mesma. Ser um culto especializado em uma divindade não muda o contexto religioso que ele está situado. Para qualquer um estamos tratando da mesma matriz religiosa e nessa matriz o papel de Orunmila é reconhecido da mesma forma.

Na nossa teologia, antes de nossos espíritos virem para o aiyé, no orun nós nos ajoelhamos perante Olódùmarè para junto a ele pedirmos o nosso destino, que alguns preferem chamar de objetivo de vida. Nesse momento nós escolhemos o que queremos viver nessa vida, o que queremos realizar e qual o nosso objetivo ao nascer no aiyé. Olódùmarè pode concordar com o que pedimos ou não, ou pode ainda definir para nós outros objetivos de vida. Essa conversa é uma das coisas mais importantes para nós e dela poderá depender por exemplo qual será o nosso odù de nascimento, porque ele faz parte do nosso Orí e vai ser definido para nos ajudar na vida que vamos ter aqui no aiye. O nosso Orixá também poderá ser definido nesse momento e também será escolhido de forma a nos ajudar com nosso objetivo de vida.


 Orunmila fala sempre através de um Odù. Existem 256 Odù e os sacerdotes de Ifá dedicam a sua vida a aprender a entender as mensagens de orunmilá através desses Odù, a aprender os versos de Ifá, poemas, os ésé, que contem através de metáforas os ensinamentos e mensagens para os consulentes. Além disso devem aprender a como fazer as rezas, os ébó, as folhas e até sacrifícios que permitirão ao odù atuar na vida das pessoas.

Assim, não se pode falar de Orunmila e de Ifá sem considerar que tudo isso gira em torno de Odù. Não sei se todos entendem o que é um Odù porque sem entender o que é um odù não se entende Ifá, mas volto nisso adiante. Entre nós, no Brasil, Ifá é sinônimo de Oráculo e muita gente usa assim indistintamente sem as vezes entender a origem dessa palavra.


 Orunmila é uma das mais importantes divindades da religião Yoruba. Sua atuação esta centrada no oráculo e nos ẹbọ corretivos e sua atuação junto às demais divindades e seres humanos gira em torno da transmissão de sabedoria e da humildade. O fato de não ser um Orixa guerreiro talvez também explique a pouco popularidade no Candomblé já que os Orixa tradicionais sempre tem que carregar uma arma branca na mão e são representados como musculosos e lindas beldades. Essas descrições jamais seriam adequadas para Orunmila.

Através de sua grande sabedoria, conhecimento e compreensão Orunmila coordena a atuação dos irunmale da religião Yoruba. Ele funciona como um intermediário entre os demais irunmale e as pessoas e entre as pessoas e seus ancestrais. Assim ele é a boca dos Orixa que fala através do seu oráculo, o oráculo de Ifá.

Mas a fala de Orunmila não é uma coisa simples e direta como estamos acostumados nos oráculos que usamos no dia a dia ou mesmo através dos guias de Umbanda. Orunmila fala através de sinais e de histórias. Suas histórias são metáforas, parábolas e meias verdades que devem ser interpretadas.


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