Astrônomos descobrem primeiro pulsar alimentado pela ação de uma estrela anã branca
RIO – Descobertos por acaso nos anos 1960, os pulsares são estrelas de nêutrons – os restos superdensos de astros gigantes que explodiram em supernovas – com poderosos campos magnéticos e girando a altas velocidades, o que faz com que emitam pulsos periódicos de radiação eletromagnética (daí seu nome) em feixes direcionados, como um farol cósmico. Mas astrônomos encontraram recentemente um pulsar com uma configuração diferente, o primeiro do tipo visto no Universo até agora: um exótico sistema binário, isto é, com duas estrelas, em que a radiação emitida por uma anã branca - por sua vez os restos incandescentes de estrelas como nosso Sol - “atiça” periodicamente sua companheira, uma velha e fria estrela anã vermelha, fazendo o sistema como um todo aumentar e diminuir de brilho em intervalos de dois minutos.
De acordo com os astrônomos, a anã branca deste sistema binário pulsante, designado AR Scorpii (AR Sco) e a 380 anos-luz de distância na direção da constelação de Escorpião, tem o tamanho aproximado da Terra, mas uma massa 200 mil vezes maior, produzindo um campo magnético 100 milhões de vezes mais intenso que o do nosso planeta. Já a anã vermelha tem só um terço da massa de nosso Sol, “queimando” tão lentamente seu combustível nuclear que deverá continuar a brilhar ainda por trilhões de anos. Ambas estão separadas por cerca de 1,4 milhão de quilômetros, ou pouco mais de três vezes a distância Terra-Lua, completando uma órbita em torno de seu centro de gravidade comum a cada 3,6 horas.
Mas assim como as estrelas de nêutrons dos pulsares “convencionais”, a anã branca do AR Sco também gira rapidamente, fazendo com que emita ondas de partículas carregadas e radiação na direção de sua companheira. Segundo os astrônomos, estas emissões estão concentradas em um feixe muito parecido com os produzidos por aceleradores de partículas, algo também nunca visto antes no Universo, que aceleram os elétrons na atmosfera da anã vermelha para próximo da velocidade da luz, outra observação inédita em sistemas binários do tipo.
- O AR Sco é como um dínamo gigante em que um ímã do tamanho da Terra, com um campo (magnético) 10 mil vezes mais forte do que qualquer um que possamos produzir em laboratório, gira a cada dois minutos e gera uma enorme corrente elétrica na sua estrela companheira, o que então produz as variações no brilho que detectamos – resume Boris Gänsicke, professor do Grupo de Astrofísica da Universidade de Warwick, no Reino Unido, e um dos autores da descoberta, relatada nesta terça-feira no periódico científico “Nature Astronomy”, ao lado de Tom Marsh, também da instituição britânica, e David Buckley, do Observatório Astronômico da África do Sul.
Fonte:http://oglobo.globo.com/
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