Ilustração mostra a poeira cósmica se formando logo após a explosão de uma supernova - ESO/M. Kornmesser |
“Somos todos feitos de poeira de estrelas”. A poética frase,
popularizada pelo falecido astrônomo americano Carl Sagan nos anos 1970,
traduz a constatação de que a maior parte dos átomos que formam nossos
corpos e a própria Terra foram forjados nas fornalhas nucleares de
estrelas há muito extintas. Até agora, no entanto, os cientistas ainda
não tinham conseguido descobrir como essa poeira pode se condensar,
crescer e sobreviver no difícil ambiente de uma galáxia onde estrelas
estão se formando a todo momento, alvo de estudo publicado na edição
desta quarta-feira da revista “Nature”.
Para traçar o processo de
fabricação da poeira de estrelas, astrônomos liderados por Christa Gall,
da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, acompanharam a evolução dos
restos atirados ao espaço pela supernova designada SN2010jl. Há tempos
os cientistas suspeitam que as supernovas, enormes explosões que marcam
os momentos finais da vida de estrelas muito mais maciças que nosso Sol,
são as principais fontes da poeira cósmica espalhada pelo Universo, mas
nunca tinham visto como elas fazem isso.
Com base em uma série de
dez observações da supernova com instrumentos instalados no telescópio
VLT, do Observatório Europeu do Sul (ESO), no Chile, os pesquisadores
puderam verificar que o processo tem duas fases, com a poeira já
começando a se formar logo depois da explosão e continuando a ser
fabricada anos depois do seu ofuscante brilho ter se extinguido. Além
disso, as observações – nove feitas nos meses seguintes à explosão e a
décima dois anos e meio depois – revelaram o quão grandes e de que
material a poeira é feita, fatores que ajudam a evitar dispersão
completa e permitem que se tornem as sementes para a formação de futuras
estrelas e planetas.
- Ao combinar os dados das primeiras nove
observações fomos capazes de pela primeira vez medir como a poeira em
torno de uma supernova absorve as diferentes cores da luz, e com isso
pudemos descobrir mais sobre ela do que foi possível anteriormente –
explica Gall.
Segundo os astrônomos, grãos de poeira com mais de
um milésimo de milímetro se formaram rapidamente no denso material
espalhado pela explosão da supernova. Embora pequenos para os padrões
humanos, estes grãos primordiais de poeira cósmica são considerados
grandes pelos astrônomos, maiores do que eles esperavam, o que ajudaria a
explicar como conseguem manter sua coesão neste difícil ambiente.
-
A detecção destes grandes grãos logo depois da explosão de uma
supernova significa que deve haver uma maneira rápida e eficiente deles
serem criado – destaca Jens Hjorth, do Instituto Niels Bohr da
Universidade de Copenhague e coautor do estudo, que, no entanto, admite:
- Só não sabemos é exatamente como isso acontece.
Mas os
astrônomos já têm um suspeito: o material das camadas externas da
estrela lançados ao espaço enquanto ainda agonizava, antes da explosão.
Assim, as ondas de choque produzidas pela supernova criaria uma concha
de gás frio que seria exatamente o ambiente que permitiria a estes grãos
se condensarem e crescerem. Já num segundo momento, meses e mesmo anos
após a explosão, o processo seria acelerado pelo envolvimento do próprio
material espalhado pela supernova. No caso da SN2010jl, se o ritmo de
formação continuar com a tendência observada, em 25 anos ela terá
produzido poeira equivalente a metade da massa do Sol.
- Antes, os
astrônomos viram muita poeira em torno de restos de supernovas, mas só
encontraram pequenas quantidades sendo formadas pelas explosões em si.
Nossas observações explicam como esta aparente contradição por ser
solucionada – conclui Gall.
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