Existem galáxias "predadoras" no Universo e duas delas são a Via Látea e Andrômeda. Quem ganhará em um confronto no futuro distante?
Cientistas descobriram que a galáxia de Andrômeda vem se alimentando há dez bilhões de anos de seus vizinhos menores, absorvendo várias centenas de sistemas de estrelas anões. Uma das vítimas de Andrômeda pode vir a ser a Via Láctea que, por sinal, também era conhecida por seu comportamento predatório no passado.
Cemitério de estrelas
Em abril de 2017, um grupo internacional de astrofísicos descreveu a galáxia ZF-COSMOS-20115 em um artigo publicado na revista Nature. Ela foi observada em uma época em que o Universo tinha apenas 1,65 bilhão dos seus atuais 13,7 bilhões de anos. A idade do sistema era de cerca de 700 milhões de anos, mas nos últimos 400 mil anos não havia formação estelar ativa nele.
Em outras palavras, o sistema morreu, embora os modelos evolucionários não permitissem a existência de galáxias mortas tão distantes.
No entanto, já em junho do mesmo ano, na revista Nature foi publicado um artigo de uma equipe internacional de cientistas afirmando que galáxias que não conseguem formar novas estrelas de maneira autônoma existem quase desde o início dos tempos. Cerca de metade dos maiores sistemas do Universo esgotaram seus próprios recursos de construção já há nove bilhões de anos, e isto aconteceu não só em galáxias elípticas, mas também em galáxias espirais.
Os autores do artigo sugeriram que os sistemas estelares morrem devido ao acúmulo de matéria escura nos seus arredores.
Estes aglomerados forçam a matéria "normal", cujos fluxos vêm do ambiente intergaláctico, a acelerar o movimento e aquecer. Como resultado, as galáxias perdem acesso a novos materiais de construção e deixam de formar estrelas. Este é exatamente o destino que os cientistas acreditam que a galáxia espiral MACS 2129-1 sofreu há mais de dez bilhões de anos.
© FOTO / NASA / ESA / S. TOFT, UNIVERSITY OF COPENHAGEN / M. POSTMAN, STSCI / CLASH TEAM
Galáxia morta MACS 2129-1
Uma teoria alternativa diz que a morte de galáxias é o resultado de colisões entre galáxias, que levam a picos súbitos de formação estelar e ao "esgotamento" das reservas de gás neutro.
Um zumbi ressuscitado
Cientistas japoneses concluíram, após analisar a composição química de estrelas, que nossa galáxia nativa, a Via Láctea, esteve morta por dois bilhões de anos, mas depois ressuscitou, aponta o estudo publicado na revista Nature em 2018. Verificou-se que um grupo de estrelas se caracteriza por um conteúdo maior de oxigênio, magnésio, silício, cálcio, enxofre e titânio, enquanto o segundo se caracteriza por um alto nível de ferro. Isto significa que as estrelas se formaram em diferentes épocas, separadas por um período significativo de tempo durante o qual a galáxia esteve realmente morta.
© DEPOSITPHOTOS / ALEXMIT
A galáxia Via Láctea
Na primeira época, a Via Láctea atraía gás frio do espaço intergaláctico. Foram os seus aglomerados que serviram de base para a primeira geração de estrelas. Elas existiram por pouco tempo segundo os padrões espaciais e explodiram dez milhões de anos depois, dando vida a supernovas do tipo II, que liberaram oxigênio, cálcio, silício e magnésio no ambiente interestelar.
Há cerca de sete bilhões de anos, ondas de choque de explosões de supernovas aqueceram as nuvens de gás espacial. O gás deixou de circular pela galáxia, os processos de formação de novas estrelas pararam e a Via Láctea morreu. No entanto, supernovas do tipo Ia continuaram a explodir, enriquecendo o espaço com ferro e outros elementos pesados. Em cinco bilhões de anos, elas arrefeceram o gás e a formação de estrelas recomeçou. Assim surgiram os astros de segunda geração, que incluem o Sol.
Curiosamente, entre as estrelas de nossa galáxia há também aquelas cuja composição é radicalmente diferente das demais. Por exemplo, o objeto J1124+4535 é muito pobre em magnésio e rico em európio. De acordo com os pesquisadores, uma proporção semelhante de elementos foi observada anteriormente em estrelas de sistemas anões girando em torno da Via Láctea. Assim, o J1124 + 4535 pode ter nascido em outra galáxia que tenha sido absorvida pela Via Láctea.
Vizinhos para comer
Não é invulgar sistemas estelares irem se comendo uns aos outros no Universo. A galáxia mais próxima de nós, Andrômeda, que fica a cerca de 2,5 milhões de anos-luz, engoliu várias centenas de vizinhos anões nos últimos dez bilhões de anos. Um outro grupo internacional de astrofísicos enxergou na revista Nature seus rastros no halo, a parte invisível da galáxia.
De acordo com as estimativas desses cientistas, os vizinhos incorporaram o monstro espacial sete a dez bilhões de anos atrás. Há dois bilhões de anos, a Andrômeda comeu a M32p, uma galáxia bastante grande considerada como gêmea da Via Láctea. Daqui a cerca de 4,7 bilhões de anos nós podemos sofrer um destino semelhante. Mas como a Andrômeda e a Via Láctea são de tamanhos semelhantes, ainda não se sabe quem irá absorver quem.
© FOTO / NASA / NRAO / AUI / NSF; DANA BERRY / SKYWORKS; ALMA (ESO/NAOJ/NRAO), ESA / R. GENDLER
Galáxias canibais (W2246-0526 e Andrômeda)
Contudo, agora podemos observar um processo semelhante praticamente ao vivo. Estamos falando da galáxia infravermelha W2246-0526 e seus três satélites anões. Pesquisadores da NASA estudaram a vizinhança da W2246-0526 com o telescópio de micro-ondas ALMA e notaram que a galáxia e o enorme buraco negro em seu centro estão conectados aos três sistemas mais próximos por linhas grossas de gás frio, publicando seus resultados na revista Science Magazine. Isso indica que a W2246-0526 está literalmente rasgando os vizinhos, sugando gás, poeira e matéria escura deles.
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