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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Como o povo identificava as diversas categorias de Babalawo? Como se pareciam ou se diferenciavam eles?

Em primeiro lugar, os Babalawo não se vestiam, necessariamente, só de branco; podiam usar também o azul médio por questões puramente práticas: vestes desta cor sujam menos. E os Awoni, sendo aristocratas, desde muitos séculos atrás, talvez antes dos europeus, obtinham dos comerciantes árabes a seda multicolor, por ser esta muito leve e, se usada em vestes amplas, muito frescas no verão. E no inverno, por motivos climáticos inversos, introduziu-se o tecido adamascado árabe e, depois, o veludo europeu. E, no início, estas vestes, mormente no verão africano, restringiam-se a um grande pano retangular, enrolado e preso à cintura, indo da mesma ao final das canelas. Foi o relacionamento inicial com os povos negros já islamizados como os Fulbas, Peules e Haussás que introduziu o costume de usar vestes do tipo "cáftan" árabe, às quais se sobrepunham, para dignificação, mantos leves e esvoaçantes. 

Também a aculturação Islâmica promoveu a substituição dos tradicionais chapéus de palha finamente trançada em formato cônico, por gorros de seção cilíndrica ou turbantes, mas o uso de turbantes era privativo dos Awoni Babalawo. Calçados, do tipo sandálias pesadas, só eram usadas em longas caminhadas por quase todos, mas a Islamização introduziu as "babuchas", tipo de chinelo de couro tratado, sem salto, no estilo oriental, para os Omo Bíbi. 

Vemos assim que, só pelas vestes, não era possível identificar-se um Babalawo, a não ser entre os mais aristocrátas e os demais mortais! Então, olhava-se para as suas cabeças. Os Elegan tinham-nas obrigatoriamente raspadas; os Osu e Ôl’Odu deixavam crescer nas cabeças raspadas um tufo circular de cabelos, na parte lateral direita do crânio, tufo este aparado curto no caso dos Osu, mas que poderia ser longo e trançado no caso dos Ôl’Odu. Mas, somente os Awoni usavam neste Ôsù, o Ekódidé, ou seja, uma pena vermelha da cauda do papagaio cinzento africano. 

Em seguida, podia-se visualizar os braços e o tórax dos Babalawo: todos eles, de qualquer categoria, usavam o Idê Ifá ou Bracelete de contas castanhas e verdes claras, atado no pulso esquerdo. Mas somente de um Ôl’Odu para cima, ou, se muito famoso, um Oluwo, ousava acrescentar a este bracelete uma Opala cor de rosa ou, se não tivesse recursos para isso, uma conta de cerâmica dessa mesma cor. E, no pescoço, os Babalawo usavam cordões de pequeníssimas contas castanhas, torcidos juntos e com dez grandes contas verdes e brancas colocadas em espaços regulares. 

Os Awoni, se abastados, podiam ainda usar no pescoço um dispendioso colar de contas de coral vermelho. E, finalmente, cruzando o peito apoiado no ombro direito o Edigbá, um colar de longos cordões de contas especiais, feitas com seção transversal de caroços de Dendê ou ponta de chifre de gado. Nas mãos, quando saiam para praticar a Divinação Sagrada, todos os Babalawo podiam usar o Ìrùkêrê, mas feito com longos pelos do rabo de vaca e com cabo de pouca espessura. 

Podiam, também, portar a Irofá ou Vareta Divinatória, com a qual se podia chamar a atenção do Orisa Orunmila para as aflições de seus consulentes, batendo-a de encontro ao Opon. E quando dois Awoni se encontravam nas ruas, cruzavam os seus Ìrùkêrê, com os respectivos cabos para baixo, saudando-se com a senha ritual de Ifá: -"Ogbêdù! Ogbomurin!"- Além disso, os Babalawo, em ocasiões solenes, caminhavam em procissão apoiando-se nos seus Ôpá Orêrê, ou seja, em seus Cajados de Ferro, com pequenas sinetas cônicas, que retiniam cada vez que o cajado apoiava-se no solo. 

Este cajado, quando não transportado, era cravado em pé, com muito cuidado, no solo do pátio da casa de seu dono e era a insígnia mais respeitada e temida dos Babalawo, não só por seus fiéis mas também por eles próprios. Recebia sacrifícios rituais junto aos Origi e acreditava-se ser ele a sentinela do sono dos Babalawo e, quando fincado ao solo, não podia cair sem sérios motivos que o derrubassem, pois neste caso, acreditava-se que seu dono já havia cumprido o seu Iwa e aproximar-se-ia o seu Ôl’ojó ou Dia Marcado, seu tempo aprazado para voltar ao Ôrun. Assim, quando da morte de um Babalawo, o seu Ôpá Orêrê era intencionalmente derrubado. E quando se verificava que um Babalawo estava acompanhado de um Akopo, tornava-se evidente que se estava diante de um Babalawo Ôjúbona, um Mestre de Ensino. 

Esta função de Ogjubona era para um verdadeiro Babalawo, uma das suas funções mais importantes, já que outra das mais severas sanções que pesava sobre ele era o fato de que se ele não formasse, pelo menos, um Elegan ou aprendiz, a sua Ebikeji Ôrun ou Segunda Pessoa no Além, ou melhor, a sua Matriz Astral, não poderia achar descanso entre os seus Baba Âgbâ ou Antepassados. 

Vê-se, assim, que o "status" de Babalawo não era uma sinecura e, muito menos, isento de trabalhos e riscos. A sua tarefa era difícil e patrulhada por severa regras de conduta que deveriam servir de base técnica e moral para a ação, pelo menos pública, dos atuais "Babalaôs": O Babalawo Awoni não podia: - envolver-se com a mulher de outro, inclusive sua Apetebi ou Companheira Ritual; - praticar Âjé ou Feitiço contra outro Awoni; - conspirar contra os seus pares; - abandonar outro Awoni que estivesse em dificuldades, sem tomar providências para que tudo ficasse em ordem com o necessitado; - falar mal de outro, fora do âmbito de sua Confraria, mesmo o outro sendo culpado; - divulgar o teor das discussões travadas em seus encontros formais na Confraria Oxôgboni ou Sociedade Secreta, mesmo que se tratasse de punições contra culpados ou desagravo de inocentes. Estas regras aplicavam-se e aplicam-se a todos os Babalawo. 

Acrescenta-se à essas regras acima, outras duas vindas também da milenar sabedoria Yoruba e que eram aplicáveis à qualquer categoria de Babalawo: Obé ti o mu ki gbé kuku ará ré -"Por mais afiada que seja a faca, ela não pode riscar seu próprio cabo ."

" Não se pode barganhar com as coisas de Ifá, como se faz com as coisas na praça do mercado ."- O que equivale a dizer-se que nenhum Babalawo podia realizar a Divinação Sagrada em proveito próprio e/ou barganhar com o Destino dos fiéis dos Awon Orisa. Foi por respeitarem e, principalmente, fazerem respeitar estas poucas regras básicas que essa linhagem de homens religiosos, os Babalawo, conseguiu estabelecer por mais de 1400 anos, em sua própria terra e entre seus próprios fiéis, uma reputação de dedicação e honestidade. 

E o pesquisador ocidental, W. Bascon (1969) quem remarca este fato: - "é significativo que nenhum dos divinadores de Ifé conquistou a reputação de cobrar em excesso." E essa antiga, merecida e honrosa reputação, dos território desses antigos Impérios (Nigéria, Benin, Daomey e Togo), demonstram que quase trezentos anos de "guerra, suor e lágrimas" desmantelou a estrutura sócio-religiosa-cultural daquele povo e muitos se esqueceram, não conheceram ou desobedeceram ao antigo provérbio Ulkumy-Nàgô: -"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifa eni pa"- -"Qualquer que seja a soma que agrade alguém, é aquela pela qual recebemos para jogar Ifá "-

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