Presidente da Codemig, Oswaldo Borges da Costa, será julgado por Fausto De Sanctis por contrabando e evasão de divisas
Allan de Abreu
A Polícia Federal prendeu 11 pessoas acusadas de envolvimento em um esquema internacional de contrabando de diamantes, parte deles extraídos do rio Grande. Entre os presos está o empresário Alcione Máximo Queiroz, de Frutal (MG).
Foram apreendidas 90 pedras preciosas avaliadas em R$ 1 milhão, incluindo diamantes, parte proveniente do Grande. No total, os policiais cumpriram 31 mandados de busca e apreensão no País. Na região, a PF cumpriu mandados nas residências de João de Deus Braga e Antônio Marques Silva, o Marquinhos, donos de áreas no Grande usadas para extração de diamantes, do ex-vereador em Frutal Élio Salvo Borem, o Jararaca, e em uma empresa de joias de Rio Preto - os policiais não informaram os objetos apreendidos nesses locais. Em Franca (SP), a PF apreendeu cinco veículos, incluindo caminhonetes de luxo.
Segundo o delegado da PF, Edson Geraldo de Souza, o garimpo do rio Grande era um dos três maiores fornecedores de diamantes para o esquema, revelado com exclusividade pelo Diário da região em série de reportagens publicadas em dezembro de 2003.
Os dois outros garimpos, localizados em território mineiro, ficam em Diamantina e Coromandel. Um dos compradores dos diamantes encontrados no garimpo era Queiroz, que revendia para Isalto Donizette Ferreira, de Franca (SP), líder do esquema e preso ontem durante a operação, batizada de Quilate. Entre os detidos está um israelense, que segundo a PF era um dos maiores compradores de diamantes do grupo para revenda em Tel Aviv, conhecido mercado de pedras preciosas em Israel.
O dinheiro decorrente das transações - cujos valores não foram revelados pela PF - era repatriado por meio de operações de câmbio ilegais, principalmente o dólar-cabo, pelo qual o doleiro recebe o dinheiro do esquema em uma conta bancária no exterior e deposita quantia equivalente na conta dos contrabandistas no Brasil, sem o pagamento de impostos. As prisões são preventivas (com duração indeterminada), e foram decretadas pela 2ª Vara da Justiça Federal de Franca.
Os envolvidos, conforme a PF, serão indiciados por formação de quadrilha, contrabando, receptação, crime contra o sistema financeiro nacional e usurpação de bens minerais pertencentes à União. Somadas, as penas podem atingir 30 anos de prisão. Além de Frutal, seis foram detidos em Franca, três em Uberlândia (MG) e um em São Paulo. Todos os presos foram encaminhados ontem à carceragem da PF em Ribeirão Preto, e hoje devem ser transferidos para o Centro de Detenção Provisória (CDP) da cidade. A operação mobilizou 140 agentes da Polícia Federal.
Outro lado - A reportagem não localizou ontem os advogados de Queiroz, Jararaca, Marquinhos e Ferreira para falar sobre o caso. Braga não quis se pronunciar sobre a operação policial.
Diário revelou esquema
O esquema de contrabando de diamantes do garimpo do rio Grande para o exterior, um dos alvos da Operação Quilate, foi revelado pelo Diário em dezembro de 2003. No auge da atividade no Grande, entre o fim dos anos 90 e início desta década, o garimpo movimentou cerca de US$ 150 milhões na compra, venda e remessa ilegal das pedras preciosas para a Europa e Ásia.
O garimpo começou em 1997, quando Antônio Marques Silva, o Marquinhos, e João de Deus Braga conseguiram do governo federal uma autorização precária para explorar diamantes no Grande com a finalidade de pesquisa científica. Em pouco tempo o rio nas divisas de São Paulo e Minas Gerais recebeu uma enxurrada de garimpeiros do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Até o pai do deputado federal Nárcio Rodrigues (PSDB-MG) chegou a ter balsa no local. Nárcio chegou a fazer lobby no Ibama em 2002 para regularizar o garimpo.
Foram encontradas no rio pedras avaliadas em até US$ 1,3 milhão - um diamante rosa, comprado pela Giacampos Diamond Ltda e revendido ao exterior por US$ 10 milhões. Outro diamante, de R$ 1,8 milhão, foi comprado por Oswaldo Borges, cunhado do ex-governador mineiro Aécio Neves, segundo um dos donos da área, Vicente Paulo do Couto.
Um dos que comandavam o negócio era Isalto Donizette Ferreira, de Franca, preso na Operação Quilate. Ele adquiria boa parte das pedras encontradas no rio Grande e revendia clandestinamente para o exterior. Em entrevista ao Diário em 2003, Ferreira admitiu o negócio ilegal. “Compro alguma coisinha”, disse na época.
O “olheiro” de Ferreira em Frutal era Alcione Máximo Queiroz, também preso ontem. Depois de sucessivas blitze da Polícia Federal e da Polícia Ambiental, o garimpo no rio Grande foi praticamente desativado no fim do ano passado.
Nota do Novojornal:
O governo de Minas e Codemig recusaram-se a comentar o fato. O juiz Fausto De Sanctis informa: “Não comenta matéria sob segredo de Justiça”.
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