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sábado, 23 de julho de 2022

A missão de um Babalawô não é fácil





A "Mão de Ifá" era, pois, a coroação de anos de esforços e estudos, sendo sancionada em ritual próprio que promovia a junção do Natural com o Sobrenatural, do Método com a Intuição Psíquica, induzida pelo transe mediúnico leve, que abria canais da percepção extra-sensorial do Babalawo para a presença do Ase dos Orisa Orunmila Ifa e do Imole Esu, já que o Babalawo jamais "caía" em transe mediúnico possessivo, sendo essa, na verdade, além de todos os conhecimentos já referidos, a grande diferença oculta, o Ero ou "Segredo" exotérico, entre o verdadeiro Babalawo (Senhor do Segredo) e o Babal’Orisa (Pai do Orisa) ou "Pai-de-Santo". 

Esta "Mão de Ifá" era representada materialmente por um conjunto de 16 (dezesseis) caroços dos frutos do Dendêzeiro, limpos de suas cascas moles, suas cascas duras polidas pelo uso constante e consagrados em ritual próprio, conhecidos em específico por Ikin (coquinhos de dendê), juntamente com um tabuleiro de madeira, geralmente circular, com mais ou menos 35 cm de diâmetro, levemente polido o seu fundo, mas com uma borda entalhada mais alta, a qual delimitava um "espaço sagrado", tabuleiro este chamado de Opon Ifa, justamente o "Tabuleiro de Ifá". 

Como o termo Awo pode significar "segredo" ou "tabuleiro", os Babalawo também eram conhecidos pelo título de "O Senhor do Tabuleiro". Recebia também o segundo instrumento consagrado, o Opele Ifa ou a "Corrente de Ifá", agora confeccionado com uma dupla corrente de ferro, cada lado mantendo juntas 4 meias-sementes da oko (árvore) Opele Oga (Schebera Columgensis), derivando daí o nome pelo qual este instrumento era conhecido. Mas, antes de receber estes instrumentos consagrados, o antigo Omo Awo, tendo passado pela fase de Akopo, era submetido agora a um dos rituais mais antigos da Humanidade: ele era "mergulhado" na Eerupe ou "Lama", matéria prima primordial da Existência, matéria de onde viemos e para qual um dia voltaremos e onde, ritualmente, "morria" o antigo Omo Awo e "nascia" o novo Babalawo.

Só a partir daí, o novo Babalawo podia praticar a Divinação Sagrada por si próprio mas, mesmo assim, à cada 16 dias, no Ojo Awo ou "Dia do Segredo", ele devia se reunir com seu Ojugnonan, para continuar seus estudos e, com isso, ser apoiado pelo mesmo em sua incipiente prática pública. 

As dificuldades da Iniciação de um verdadeiro Babalawo do passado não são poucas; a Iniciação ao Sacerdócio do Orisa Orunmila era e ainda é a única iniciação intelectual entre todos os outros cultos aos Orisa e Ebora. Ademais, como existiam 4 (quatro) graduações superiores na carreira de um Babalawo, sendo que a última tinha 16 (dezesseis) supra-divisões, pode-se sentir que o tempo de estudos e práticas de um Babalawo não terminava nunca e tornar-se respeitado e em ascensão na "carreira" escolhida, era tarefa para toda uma vida. 

Só que na verdade, ninguém pretendia tornar-se Babalawo para ganhar dinheiro, pois era popularmente conhecido um Verso dos Contos de Ifá: -"Oye ti o ba wu eni ni ta Ifá eni pá"- -"Qualquer que seja a soma que agrade alguém, é aquela pela qual receberemos para jogar Ifá". E assim, alguém era encaminhado ou encaminhava-se para ser um Babalawo em decorrência do cumprimento do seu próprio Iwa ou "Destino", revelado pela própria Divinação, embora também fosse bem conhecido um outro ditado popular, o qual consagrava o "status" social de um Babalawo : -" Um ancião que aprendeu Ifá, não precisa comer nozes de Kolla deterioradas." Não era quanto ganhava um Babalawo de Eru ou "Pagamento" que fazia a sua fama; a sua reputação era proporcional ao seu sucesso em aliviar as aflições de seus fiéis consulentes e não os seus bolsos: nos Versos dos Contos de Ifá pode-se ler que até o pequeno pagamento estipulado para seus serviços, muitas vezes, era determinado que parte dele deveria ser disribuído entre os necessitados ou financiar um repasto comunal. 

Se firmava, ele ascendia à classe dos Oluwo ou "Senhores do Segredo", tendo acesso à cargos públicos e jamais precisaria, "comer nozes de Kolla deterioradas", isto é, não passaria dificuldades financeiras. Mas, a única forma para isso era estudar, praticar muito e bem cumprir seus deveres rituais para com o Orisa Orunmila, não lhe bastando somente uma efêmera fama. Mas isso não era fácil se ele não estivesse realmente capacitado, porque embora fosse possível, mais teórica que praticamente, a um Babalawo inescrupuloso obter destreza suficiente no manejo dos Ikin ou "Coquinhos de Dendê" para forçar o "aparecimento" de uma determinada Ona Ifa ou "Trilha de Ifá" que lhe interessasse, ele sempre esbarraria no fato de seus consulentes conhecerem meios de impedir tal prática, mesmo que, aparentemente, o Babalawo estivesse seguindo o sistema regular de normas. 

A ação divulgadora dos Akisa ou "Aqueles que louvam a Divindade" era das obras mais importantes, leigos graduados no culto e que recitavam para o povo as lendas e os louvores do sistema, nas quais apareciam com freqüência precedentes históricos que clarificavam, na mente dos consulentes, quais eram as regras a serem obedecidas pelos Babalawo. 

Qualquer desvio mínimo destas regras por parte de um Babalawo, era imediatamente repudiado pelo consulente e severamente punido pela Confraria de seus pares. Ademais, o Babalawo que intentasse qualquer desonestidade, mesmo que fosse para agradar ao consulente, ainda esbarraria no fato de que, além de não precisar dizer-lhe qual o objetivo que o levava à consulta, este podia até inverter ocultamente este seu objetivo, mesmo no caso de escolha entre respostas alternativas. 

Portanto, ser um Babalawo não era uma tarefa fácil e graciosa, mas sim árdua e espinhosa em estudo, prática, tempo, memória e perspicácia ao usá-la, embora a sua "carreira" fosse passível de erguê-lo, social e politicamente, na sociedade Yoruba, até acima do poder dos Oni ou "Reis", pois até estes deviam consultar a Divinação Sagrada, senão para si mesmo, mas necessariamente para os próprios "Negócios do Estado", pois também o alto funcionalismo do Estado era escolhido ou sancionado pela Divinação Sagrada.


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