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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

As funções de um Babalawô

As funções de um Babalawo não se restringiam à Divinação Sagrada e nem ao culto organizado do Orisa Orunmila: ele tinha que ter conhecimentos especializados sobre os cultos de todas as outras Imole ou "Divindades" e, nessa faixa, atuar tanto no atendimento aos devotos de todos os Imole, quanto no aconselhamento e assessoramento aos sacerdotes dos mesmos Imole. 

Fosse qual fosse a devoção de um Yoruba, antes de tudo mais, seu primeiro dever era com si próprio, ou seja, o dever de bem consumar o seu Iwa ou "Destino", que havia sido livremente escolhido por sua Ori Orun ou "Cabeça no Além", ou seja, antes de se tornar um Ara Aiye ou "Corpo da Vida" com a sua correspondente Ori Inu ou "Cabeça Individual" nesta Ilu Aiye ou "Terra da Vida". E, especificamente nisso, só um Babalawo podia ajudá-lo, guiá-lo ou socorrê-lo. E era por ser um sacerdote do Orisa que é o Arauto dos Destinos dos Humanos que, ainda que um Babalawo atuasse na área específica de outros sacerdotes; conhecesse ou receitasse aplicação de mais ou menos 400 Ewe ou "Folhas Sagradas" e "Medicinais"; controlasse a prescrição e a execução das Adimu ou "Oferendas Defensivas"; exercesse o controle do Oso ou "Poder Mágico", sendo portanto um Ifatoso ou Ifá (ifa) + Tem (Ti) + Poder (Oso) ou, portanto, "Aquele que tem o poder mágico de Ifá" para o manejo dos objetos rituais portadores do Ase ou "Força Mágica Vital"; receitassem e aplicassem as Ogun ou "Práticas de Medicina Natural, Mágica e Psico-Somática"; defendessem aos fiéis dos Aje ou "Feitiços"; praticassem os Ipese ou "Magias Retaliatórias" e fornecessem os Awure ou "Amuletos de Boa Sorte", a sua máxima especialização era a prática constante do A da Ifa fun, ou seja, a "Divinação Sagrada de Ifá", através dos instrumentos consagrados Opon e Opele, para revelar aos fiéis qual era o seu Kpoli ou "Destino Pessoal". 

Com tantas responsabilidades, um Babalawo precisa ter um intenso treinamento específico que, em geral, começa aos 7 anos de idade e, na verdade, só termina por sua morte, uma vez que, devendo ele próprio ensinar o Awo ou "Segredo" a outro futuro Babalawo antes de sua própria morte, ensinar tornava-se uma nova forma de continuar aprendendo com a experiência de seus ancestrais. 

Aproximando-se, assim, desde a tenra idade à um Ojugbonan ou "Mestre de Ensino", um menino Yoruba agregava-se à família do mesmo e passava a ser conhecido como umOmo Awo ou "Filho do Segredo" e tinha a obrigação de obedecer e servir ao seu Mestre como obedeceria e serviria a seu próprio pai. Mais tarde, em pleno aprendizado, quando já acompanhava o seu mestre em suas saídas públicas, este aprendiz recebia a denominação de Akopo ou "Aquele que carrega a Bolsa", numa clara alusão à sua nova obrigação de carregar a Apo ou "Bolsa" que continha os Abira ou "Conjunto de Objetos Sagrados" que seu Mestre usava ao praticar a Divinação Sagrada. 

Como Akopo, o menino em crescimento era submetido à uma disciplina curricular intensa onde se testava, antes de tudo, a sua capacidade de memorização. Além da observação visual e auditiva das práticas de seu Mestre, o aprendiz praticava a identificação e a memorização das 16 (dezesseis) figuras gráficas básicas, chamadas Ona Ifa, para depois então aprender e memorizar as totais 256 (duzentas e cinqüenta e seis) possíveis combinações capazes de serem feitas. 

E então já começava a praticar com a forma rudimentar do instrumento Opele ou "Corrente de Ifá" preparado para ele por seu Mestre. Assim, ele aprendia que ao combinar entre si as Ona Ifa dos 16 Odu Baba ou "Fundamentos de Tradição Básicos", formavam-se 256 novas figuras combinadas, mas entre si derivadas e, portanto, denominadas Omo Odu ou "Filhos de Odu". E se o 1º Odu aparecesse combinado com ele mesmo - e isso era válido e possível para todos os 16 Odu básicos - estas figuras duplicadas eram chamadas de Odu Meji ou "Odu de Dois", ou ainda melhor, "Odu Duplo". 

Depois, ele aprendia a Ordem de Precedência Hierárquica entre esses 256 Omo Odu, ordem de precedência esta que viria a se constituir na base de sua decisão na prática do Igboigbo ou "procurar o Oculto", quando da escolha entre respostas alternativas à uma pergunta específica. Em seguida, ele aprendia a própria essência da Divinação Sagrada: a memorização dos Ese Itan Ifa ou "Versos dos Contos de Ifá", os quais faziam parte de um conjunto maior, os Itan Atowodowo ou "Contos dos Tempos Ancestrais" que se constituíam-se nas Escrituras Sagradas dos Yoruba, na realidade jamais escritas, mas lembradas oralmente de geração para geração por mais de um milênio. 

Por teoria, os Akopo que aspiravam vir a ser um Babalawo precisavam memorizar pelo menos 4 (quatro) Ese ou "Versos" para cada um dos 256 Omo Odu, o que representava a memorização de 1024 Ese para que ele pudesse começar a praticar por conta própria. Entretanto, na prática, era admitido que ele começasse à adivinhar quando já soubesse, pelo menos, 1 (hum) Ese para cada um dos 256 Omo Odu. Após isso, ele aprendia e praticava a correta composição e execução dos Adimu ou "Sacrifícios Propiciatórios" - na verdade, este termo significava "Abrigar-se" - prescritos nos Ese Itan Ifa, enquanto procurava aumentar o seu conhecimento sobre as Ewe Ifa ou "Folhas Sagradas de Ifá" e as Ewe Ifin ou "Folhas de Limpeza" e mais as 300 e poucas Ewe Orisa ou "Folhas Sagradas dos Orisa" que estavam ligadas à Divinação Sagrada. 

Só então ele aprendia sobre as Oogun (medicinas), os Aje (feitiços), os Ipese (magias retaliatórias) e os Awure (amuletos de boa sorte) nos quais podia aplicar todo esse conhecimento adquirido tão exaustivamente. Se o antigo Akopo conseguia chegar até nesse ponto, ele recebia de seu Ojugnonan o seu cobiçado prêmio: a sua Owo Awo ou "Mão do Segredo", a famosa "Mão de Ifá".

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